20 fevereiro 2010

O sonho dos sonhos
A revolução cubana é a revolução dos ideais da humanidade, nas condições concretas de suas posibilidades, até agora.
ATÉ AGORA porque os seres humanos podem errar mas o que o site www.eln-voces.com escreveu, merece sempre atualização.
Vai data e obituário.

QUINTA-FEIRA, AGOSTO 03, 2006
Sobre funérios, obituários e liberdade

Fidel logo após a vitória sobre o general Fulgêncio Batista, que era apoiado pelos EUA

Nesses mais de 20 anos como jornalista fiz quase de tudo. Trabalhei como fotógrafo, repórter, redator, subeditor, secretário gráfico, assessor de imprensa e editor em todo tipo de jornal impresso. Escrevi praticamente sobre tudo: meio ambiente, política, resenha literária, economia, cidade, internacional etc. De todas essas experiências, a mais estranha certamente é a de preparar funérios. O funério, no jargão jornalístico, é o obituário preparado com antecedência, quando a pessoa em questão ainda está viva, mas à beira da morte.

Ano passado, participei da cobertura da doença do papa João Paulo II. Foram dias acompanhando aquele morre-não-morre, mas não fiz o funério em si, apenas a cobertura diária de sua doença. Agora, que fui chamado para fazer mesmo o funério de Fidel Castro, a coisa me bateu no esplendor de sua estranheza, sobretudo porque sou um fã incondicional do líder revolucionário cubano. Escrever algo como se o comandante já tivesse partido foi uma das sensações mais esquisitas da minha carreira.

Fidel com Camilo Cienfuegos, os revolucionários entram triunfantes em Havana em 1959.

Eu sei que muitos vão ficar naquele papo de ditador odioso e coisa e tal. Mas, para mim, a coisa é mais emblemática. Acho heróica sua resistência esses anos todos ao ódio norte-americano, cuja penimba com Cuba é muito mais no plano do insulto moral que representa a existência de uma Cuba socialista à beira de seu quintal, do que uma ameaça concreta aos Estados Unidos.

Fidel sobreviveu a dez administrações americanas que, entre outras coisas, impuseram um embargo econômico criminoso à população cubana e tentaram assassiná-lo diversas vezes. E, agora, com sua doença, já planejam como será o governo de transição, já tem um pacote de ajuda de US$ 80 milhões etc e tal. Ou seja, já estão pensando em Cuba novamente como seu quintal.


Com Che Guevara: inspiração para várias gerações de mentes libertárias.

Por isso, a resistência dos cubanos, personificada nas figuras de revolucionários como Ernesto Che Guevara, Camilo Cienfuegos e o próprio Fidel, é, para mim, um símbolo importante, sobretudo nestes tempos de fragmentação ideológica. Se o socialismo sucumbiu ante a globalização da economia, a luta por independência, autonomia e liberdade continua aí, pois há sempre algo fora da ordem na nova ordem mundial.
'As fotos são lindas por refletirem um momento do sentimento de liberdade que os seres humanos estão conquistando contra os impérios. Todos os impérios. Conquistando com juventude, esperança, sexualidade (mesmo que fossem machistas como é a sociedade cubana).
Mas é dos momentos mais altos e vigorantes do sonho de liberdade e autonomia dos sonhos de todos os sonhadores".

11 fevereiro 2010


Quem só entende de dinheiro e boi não entende nada de gente

Jacques Távora Alfonsin*.

O vice-presidente da Farsul, em artigo publicado na ZH do dia 30 de janeiro, comparou o MST com Dr. Jekyll e Mr. Hide, para sustentar a tese de que esse Movimento popular é um monstro. Isso estaria provado por três fatos principais, entre outros: uma iniciativa de procurador do Incra para apurar práticas criminosas que teriam ocorrido em um assentamento; tais assentamentos se constituiriam em fracassos econômicos, favelas rurais, segundo pesquisa do Ibope; “fome se acaba é com agricultura forte, e não com invasões, roubos e terrorismo rural.”
O pouco que não passou de opinião preconceituosa do articulista, preocupado que estava em criticar João Pedro Stedile, uma liderança nacional do MST, ficou em meia verdade. No dia seguinte, o vice da Farsul já teve oportunidade de constatar como é perigosa a generalização precipitada. A mesma ZH publicou matéria extensa sobre o quanto é antiga a presença de infiltrados dentro do Movimento, seja para alcaguetar, seja para se aproveitar de uma organização popular honesta com o fim de praticar atos desonestos. Por outro lado, mais de uma vez, em vários assentamentos, o próprio Movimento tomou a iniciativa de denunciar ao Incra irregularidades ocorridas nesses agrupamentos de pessoas, pois, como Paulo Freire já comprovara, o opressor, não raro, mora dentro do oprimido, e as/os assentadas/os não pretendem ter em seu meio, gente que pensa, individual, egoística e anti-socialmente, como a maioria da classe a qual pertence o vice da Farsul. Assentamento não é lugar de abigeatário nem de traficante de droga, como entidade rural patronal e latifundiária não deveri ser abrigo de denúncia generalista e leviana.
Faltou-lhe dizer também que, mal publicada a tal pesquisa do IBOPE, o IBGE veio em cima do fato (?), demonstrando que quem alimenta o povo brasileiro não são os grandes proprietários de terra, por eles tratada como simples mercadoria, escravizada e explorada em benefício exclusivo das suas exportações. É por isso, talvez, que não se observa indignação do mesmo artigo contrária a crimes como o de corromper o Poder Público, escondendo quem corrompe, explorar trabalho escravo, impedindo que projetos de lei contrários à tal ignomínia prosperem; protocolada em 2001, a proposta de emenda constitucional 438, contra o trabalho escravo, está parada no Congresso desde 2004...
Contratar jagunços assassinos, impor redação às leis, trocar o destino alimentar da terra por celulose, criar e dominar CPIS, manipular estatísticas (como aquela que o tal artigo do vice invoca, feita a mando da CNA), sonegar impostos e depois reclamar anistia para dívidas públicas e privadas, aconselhar a adição de raticida às águas que servem os acampamentos do MST, nada disso é crime para a opinião que criminaliza o Movimento. Celebrar a perseguição cruel e desumana que parte do Ministério Público do Rio Grande move contra as/os sem-terra, festejar o fechamento das escolas itinerantes que o MST mantém, minimizar até o assassinato de um sem-terra como o de Elton Brum da Silva, perpetrado covardemente na própria terra (São Gabriel), onde o vice não é vice e sim presidente do sindicato rural, igualmente, faz parte da poderosa e sórdida campanha de descrédito que domina grande parte da mídia contra as/os sem-terra.
Pelo menos para esse tipo de “agricultura forte”, assim considerada pelo vice da Farsul, baseada nesse autêntico terrorismo, o MST não é cúmplice, nem pode ser acusado de impune. Para o sustento perverso dessa relação ecológica com a terra, humana e social com o povo, não figura no seu passivo ter ajudado com bois ou com dinheiro. Nem ele nem os pequenos proprietários rurais (MPA), os atingidos por barragens (MAB) e as mulheres camponesas sob a bandeira do MMC. Como qualquer outra organização de povo, o MST não se julga isento de defeitos, como o vice parece considerar o modelo de atividade econômica que ele defende; o Movimento sabe muito bem disso, sem precisar das acusações, da ativa perseguição e criminalização que lhe são movidas, tanto pela classe rural a qual o articulista pertence, como por boa parte do Poder Público. É verdade que ocupa terras e o faz para fugir do desespero da pobreza e da miséria que ameaçam a vida das/os sem-terra. Quem o criminaliza e condena, entretanto, não tem que matar um leão por dia para saciar a fome das crianças suas filhas. Não fosse o programa bolsa família e as farmácias caseiras das/os próprios acampadas/os o descumprimento da função social da propriedade privada dos latifúndios já as teria eliminado.
O patrocínio em dinheiro, bois e poder que inspiram mente, coração e armas dos novos capitães de mato que andam vigiando, tentando controlar e se preciso for, matar essa organização de povo - como parte do Ministério Público do Estado já decidiu outrora - deve estar colecionando perplexidades. Como é possível que uma gente tão pobre, vítima secular de campanhas tão antigas quanto mentirosas, com um passado tão doloroso de pessoas feridas e mortas, agredida diariamente no corpo e na moral, ainda resiste?
A resposta, salvo melhor juízo, parece simples. Os seus detratores são fiéis guardiães de um modelo secular de dominação econômica, política e jurídica, que, de “moderno” só têm a violência das mesmas armas que a sua ascendência colonialista e escravocrata lhes passou disfarçada depois como “liberdade de iniciativa”. As/os integrantes, agricultoras/ es trabalhadoras/ es pobres do MST, e outros movimentos populares, bem ao contrário, estão ao lado de uma nova sociedade e de um novo mundo possível, de uma liberdade de fato e não só de direito, de uma economia solidária, na qual o bem-estar de todas/os não seja sonegado apenas em favor de alguns.
Assim, pelo menos numa coisa o artigo do referido vice tem razão. O MST integra aquela fração de povo que não é boba. Enxerga o mal que esse modelo econômico do chamado agronegócio capitalista e neoliberal, com raras exceções, causa ao povo e ao seu país. Injusto, inconstitucional, ilegal, a intolerabilidade dos efeitos que ele causa explica e justifica a defesa da dignidade e da cidadania que o mesmo quer matar, como matou o Elton. Este mostrou que, em vez de dinheiro, tão ao gosto do raciocínio limitado do artigo publicado dia 30, essa defesa vale até o sacrifício da própria vida. Linguagens e ações desse tipo, porém, são incompreensíveis para quem entende só de dinheiro, lucro, pecúnia. Pecúnia vem do latim (pecus), de onde derivou pecuária, criação de bois. Isso não nos obriga a pensar e agir como essa vítima preferida dos matadouros e frigoríficos.

*Advogado do MST. Acesso@via-rs. net

07 fevereiro 2010

Sepé Tiaraju

Hoje é o dia do assassinato do líder da luta contra o imperialismo espanhol e português nas disputas políticas e militares na possibilidade de construção do que seria, no futuro, as fronteiras nacionais e regionais, que ultrapassam, em muito, até hoje, o conceito entendidos nas academias.
Sepé Tiaraju morreu em combate, em 7 de fevereiro de 1756. Foi ferido, caiu, desprotegido, levou um tiro, sem defesa.

Era a esperança de milhares de indígenas que acreditaram na aliança com a cultura jesuítica. Construíram, juntos, experiência social que merece respeito de todos os seres humanos. Em arte, cultura, educação, política e administração.

As realizações foram aclamadas por todos os grandes pensadores europeus, da sua época.
Porque aqueles índios – e os anteriores nos continentes – não viviam medicando? Sepe é represente deste pensamento, deste sentimento. Representa o perigo da autonomia, da liberdade, da rebeldia contra os despotismos, contra os imperialismos.

Os índios aceitaram certas situações da cultura religiosa jesuítica. O arcabouço geral da arquitetura cultural era espanhol. A igreja era o marco da Praça central, a partir de onde se erigia as demais construções.

A partir daí, até hoje, onde os índios são localizados em lugares que chamam-se Reduções. Ali os índios Guarani pensaram poder desenvolver suas artes na agricultura, pecuária, marcenaria, pintura, escultura. Todos índios aprendiam um ofício e todos os ofícios eram arte.

Construíram 33 cidades da República dos Guaranis. Todas eram prósperas e organizadas, contando com uma população de 6 a 10 mil habitantes. Mas o Tratado de Madri, de 13 de janeiro de 1750, definiu que os povos missioneiros deviam abandonar toda construção, dentro de no máximo um ano. O Tratado tinha intenção de resolver os conflitos entre Portugal e Espanha. Trocava os Sete Povos das Missões que ficaria para Portugal, pela Colônia de Sacramento, que ficou para a Espanha.

Sepé defendia os povos das Missões, no conflito dos interesses entre Portugal e Espanha. Como prevaleceu a cultura portuguesa na formação cultural do RS, Sepé passou a ser desrespeitado. Para os dominadores (os tradicionalistas especialmente), não fazia parte da formação social do rio grande do sul. Quando de seu centenário, o Instituto Histórico Rio-grandense não o reconheceu, vetando a construção de um monumento em sua homenagem.
Um dia, na luta daqueles tempos, Sepé reuniu seus guerreiros e partiu a cavalo ao encontro do inimigo. Foi feito prisioneiro e levado a presença do general português Gomes Freire de Andrade, que chefiava o exercito unificado de Portugal e Espanha (Seu pai, Ambrósio Freire de Andrade colaborou com o Marques de Pombal, inclusive na luta contra a Companhia de Jesus). O encontro tem relato de que ele não se sujeitou a beijar a mão do representante imperial:

- Ninguém me obrigará a beijar a mão de outro homem. Depois sou eu o dono destas terras que tentam tomar. O general português riu-se: - "Você é apenas um pobre bárbaro, mais nada."
- "Bárbaro? Tu é que pretendes arrancar a terra de seu dono e eu luto em defesa de meu povo.
Quem é afinal, o bárbaro aqui?"
Em 1983, as Ruínas de São Miguel Arcanjo foram tombadas pela UNESCO como Patrimônio Histórico da Humanidade, o único no Rio Grande do Sul. O capitalismo atual as reduziu a pontos turísticos integrando o Circuito Internacional das Missões Jesuíticas, criado em 1994 e lançado pela UNESCO em 1997, em Havana, como o quarto Roteiro Turístico em nível mundial.

E Sepé, é símbolo nas lutas dos povos oprimidos pelo imperialismo, todos. Sepé é símbolo de cultura e de possibilidade de nação com independência, liberdade, equilíbrio, ecologia, meio ambiente, a serviço dos seres humanos. Por isto deixou claro que "ESTA TERRA TEM DONO..", frase dos que lutam pela reforma agrária, pela justiça na cidade e no campo até hoje e podemos entender porque não tem repercussão na cultura e sociedade que vivemos.
À Jorge Furtado

Os fenômenos da sociedade gaucha

Realmente, um fenômeno.
Todos sabemos que o sistema elétrico brasileiro é integrado. Coisa genial, por combinar diversas formas de geração – hídrica, termo, nuclear. Obra dos profissionais do setor que chamados no período desenvolvimentista nacionalista, mostraram ao mundo que são capazes, quando se lhes oferecem as condições políticas e econômicas.
Cada região administra seu consumo, mas todos podem se servir do oferecido nacionalmente. Quando a situação está ruim numa região, pode se abastecida por outra. Já ocorreu do sul ajudar a aliviar as dificuldades do sudeste.
No momento há sobra de energia no país. Todas as hidrelétricas estão vazando água. Funcionam com possibilidade de plena capacidade.
Se o cenário e este, porque falta luz no Rio Grande do Sul, especialmente na Grande Porto Alegre?
Quando estava pensando este cenário, inclusive a cobertura jornalística, que sabemos que seria a que é, de sempre que ocorre um fenômeno meteorológico, a responsabilidade, dependendo do governo, é do meio ambiente ou de ‘deus que quis assim’, e o Jorge Furtado, em sua razão furiosa, escreveu, no http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/02/05/o-apagao-da-yeda/#comments:
O apagão da Yeda
Por Jorge Furtado
O Apagão da Yeda
Deixa ver se eu entendi: por absoluta falta de planejamento o governo gaúcho está promovendo um apagão elétrico que prejudica seriamente a vida dos gaúchos e o assunto é tratado pela imprensa como uma questão técnica?
Os consumidores gaúchos, contribuintes, que já pagaram suas contas de luz e tiveram prejuízos com o apagão de Yeda serão indenizados? Fiquei em Porto Alegre para trabalhar e tive minha luz cortada por quase duas horas, porque a CEEE não previu o consumo de luz no verão? Quais bairros tiveram suas luzes cortadas? Qual o critério dos cortes?
No ano passado uma queda de energia de Itaipu mereceu dezenas de capas de jornais, programas de tv e rádio, que forçaram a barra para equiparar algumas horas de interrupção de energia, aparentemente provocada por uma forte tempestade, com os seis meses de apagão e racionamento que, por incompetência do governo de FHC, perturbaram a vida do brasileiros e causaram enormes prejuízos ao país.
Agora nós, gaúchos, ficamos sabendo que teremos nossas luzes cortadas seletivamente, a critério da CEEE, porque eles não imaginaram que no verão faria calor.
Quem é o culpado pelo apagão da Yeda? O inesperado calor do verão! Quem é o culpado pelos alagamentos de São Paulo? As surpreendentes chuvas de verão! Quem é o culpado pelos raios que desarmaram as linhas de transmissão de Itaipu? A Dilma e o Lula! Depois se queixam que ninguém mais leva os jornais a sério.