09 janeiro 2008

100 anos de Simone de Beauvoir



Nascida há 100 anos – em 9 de janeiro de 1908 em Paris - Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir, conhecida como Simone de Beauvoir marcou sua existência pela coragem e inteligência na luta pelo desmonte da sociedade patriarcal, capitalista e sexista. Usou como arma a escrita de romances, sobre filosofia, política, ensaios, biografias e uma autobiografia. Era a filha mais velha de Georges de Beauvoir, um advogado, e Françoise Brasseur, tendo uma irmã.
Filha exemplar, aluna brilhante no Curso Désir, teve infância marcada pela dedicação aos estudos. Na escola, estava sempre em primeiro lugar, junto com a amiga Elizabeth Mabille ("Zaza"), com quem teve uma relação de muitos anos, abruptamente rompida com a morte precoce de Zaza. Simone narrou esse episódio de sua vida em seu primeiro livro autobiográfico, Memórias de Uma Moça bem-comportada, em que critica os valores burgueses.
Em 1929 conheceu Jean-Paul Sarte, na Sorbone. Tiveram uma relação polêmica, e fecunda, que lhes permitiu compatibilizar suas liberdades individuais com sua vida em conjunto. Em julho de 1962, Sartre e Simone viajam para Moscou, a convite da União de Escritores Soviéticos. Lena Zonina, crítica literária e tradutora, lhes serve de guia e intérprete. Sartre se envolve com ela. Em dezembro, Beauvoir e Sartre retornam a Moscou a fim de passar o Natal com Zonina. No verão de 1963, Simone e Sartre passam seis semanas na União Soviética, viajando, com Zonina, pela Criméia, Geórgia e Armênia.
Foi professora de filosofia até 1943 em escolas de diferentes localidades francesas, como Ruão e Marselha.
Em seu primeiro romance, A convidada (1943), explorou os dilemas existencialistas da liberdade, da ação e da responsabilidade individual, temas que abordou igualmente em romances posteriores como O sangue dos outros, 1944, e Os mandarins, 1954, obra pela qual recebeu o Prêmio Goncourt e que é considerada a sua obra-prima.
Cabe destacar ensaios como O Segundo Sexo, 1949, onde analisa o papel das mulheres na sociedade; A velhice, 1970, sobre o processo de envelhecimento, onde teceu críticas apaixonadas sobre a atitude da sociedade para com os anciãos; e A cerimônia do adeus, 1981,onde evocou a figura de seu companheiro de tantos anos, Sartre.
Em abril de 1971, Simone escandaliza a sociedade burguesa ao assinar o Manifesto das 343, admitindo, juntamente com outras mulheres, ter feito um aborto ilegal. Na verdade, muitas delas, incluindo Simone, nunca o haviam feito. Exigia o direito à contracepção gratuita e ao aborto legal seguro. Apesar do escândalo e críticas, o movimento obtém sucesso: em 1975 o aborto será legalizado na França.
Em 1973, Les Temps Modernes, dirigida por Beauvoir, começa a publicar uma seção em que os leitores depõem sobre sexualidade.
Em 1976, respondendo a uma pergunta, disse que “o Movimento de Liberação Feminino ajudou as mulheres a se tornarem fraternas, afetuosas umas com as outras, e etc. Isso pode ter causado a impressão de que acho que as mulheres estão em uma situação melhor agora. Mas não. A luta está só começando e, nas fases iniciais, ela torna a vida mais difícil. Por causa da publicidade, a palavra “libertação” está na ponta da língua de cada homem, estando eles cientes ou não da opressão sexual que as mulheres sofrem. A atitude generalizada dos homens agora é “bem, já que vocês foram libertadas, vamos para a cama”. Em outras palavras, os homens agora estão muito mais agressivos, vulgares, violentos. Na minha juventude, nós podíamos passear por Montparnasse ou sentar em cafés sem sermos molestadas. Oh, a gente recebia sorrisos, acenos, olhares, e etc. Mas agora é impossível uma mulher sentar sozinha em um café para ler um livro. E se ela é categórica em ser deixada sozinha quando um homem a acossa, o comentário deste ao partir é, freqüentemente, vadia ou puta. Há muito mais estupro agora. Em geral, a agressividade e hostilidade masculinas se tornaram tão comuns, que nenhuma mulher se sente à vontade em Paris, e pelo que tenho ouvido, tampouco nas cidades dos Estados Unidos. A não ser que, é claro, as mulheres fiquem em casa. E é isso que está por trás dessa agressividade masculina: a ameaça que, aos olhos dos homens, a libertação das mulheres representa trouxe à tona suas inseguranças; por isso essa raiva, que tem como resultado a tendência de se comportar como se só as mulheres que ficam em casa são “puras”, enquanto as outras são fáceis. Quando as mulheres não se mostram tão fáceis assim, os homens se sentem pessoalmente desafiados, por assim dizer. Ficam com a idéia fixa de “pegar” a mulher.”
Faleceu em 14 de abril de 1986 e foi enterrada no mesmo mausoléu onde foi depositado o corpo de Jean-Paul Sartre.

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