31 julho 2010

O capital financeiro, hegemonizando o neoliberalismo, encontra-se em crise maior do que a econômica. Terá que enfrentar seu dilema de encontrar estabilidade pela força das armas como política, e suas conseqüências sociais, que já vemos acontecer nas periferias das grandes cidades do mundo, quando em seu centro,; Mas também espalhando esta fase numa guerra atômica e, portanto, global, ou encontrando nas concessões que são acenadas uma alternativa ao desenvolvimento do poderio militar privado no Planeta?

De Berlusconi a Fidel, e agora Immanuel Wallerstein e outros intelectuais e ativistas norte-americanos, indicam que o debate acontece “ao quente”, com as tropas em front e o Departamento de Estado negociando diretamente com a crise econômica do país.

E jogando com ela. A revelação de que a atuação militar norte americana, além de ilegal frente a legislação internacional, é também criminosa, aprovando a a existência de grupos militares norte americanos ou não, com direito para matar. O conteúdo dos documentos publicados informando as ações das forças armadas norte americanas mostra o descontrole militar mas também financeiro com estas ações. Depois do ataque de 11 de setembro, sob as diretrizes do governo Bush, os Estados Unidos já gastaram cerca de um trilhão de dólares no combate ao “terrorismo”. Não há uma contabilidade geral para determinar quanto todo mundo gastou com esta política. Mas sabemos que os gastos aumentaram e quem foram os beneficiários.

Abaixo artigo refletindo a situação militar mundial e a posição e os esforços do governo brasileiro.

Lx
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Os perigos da diplomacia temerária
Por Immanuel Wallerstein(*)
29 Julho, 2010

Os Estados Unidos estão a jogar o “jogo do cobarde” com o Irão e a Coréia do Norte.
Os Estados Unidos têm clamado por quase duas décadas que estão determinados a evitar que o Irão e a Coréia do Norte se tornem potências nucleares. No meio de questões mais urgentes, o governo dos EUA reafirma regularmente a importância deste objetivo. Como tanto o Irão quanto a Coréia do Norte não têm claramente vontade de ceder a estas exigências norte-americanas periodicamente reafirmadas, os EUA fazem constantemente ameaças de adotar medidas de algum tipo.

Depois deste tempo todo, devemos levar isto a sério? O que tem acontecido pode ser melhor resumido como diplomacia temerária, às vezes chamada de “jogo do cobarde”. Cada vez que é jogado de novo, trata-se sempre de saber quem pisca primeiro, e cancela a medida definitiva que levaria à guerra. Normalmente, os Estados Unidos jogam este jogo com o Irão e a Coreia do Norte, um de cada vez. Neste momento, estão a jogar com os dois simultaneamente. Por um lado, a simultaneidade torna mais difícil acreditar na seriedade da tentativa dos EUA. Por outro lado, torna o jogo mais perigoso.

Que está a acontecer atualmente? No caso do Irão, os Estados Unidos têm tentado há alguns meses obter do Conselho de Segurança da ONU uma nova resolução para impor mais sanções ao Irão por recusar a resolução do Conselho de Segurança que pedia ao Irão que suspendesse o enriquecimento de urânio. Para conseguir a aprovação dessa resolução, os Estados Unidos têm negociado o apoio da Rússia e da China. De momento, estes dois países parecem ter decidido apoiá-la, mas uma resolução mais fraca que a pretendida pelos Estados Unidos, e em troca de diversas concessões sobre outras questões.

Os Estados Unidos tinham partido do princípio de que quando obtivessem o apoio da Rússia e da China conseguiriam uma resolução unânime do Conselho de Segurança. Subitamente, dois membros não-permanentes – Brasil e Turquia – entraram em cena e dedicaram-se a uma muito pública diplomacia sobre esta questão. Os seus líderes acertaram com o Irão trocar cerca de metade do seu urânio pouco enriquecido por combustível nuclear. O Brasil, a Turquia e o Irão argumentaram que este acordo avança muito na direção das exigências dos EUA. Os Estados Unidos discordam totalmente e disseram que vão continuar a pressionar pela sua resolução no Conselho de Segurança.

Os Estados Unidos não sabem como lidar com a entrada brasileira/turca no jogo público. Ambos são supostos serem países amigos. Ambos são supostos serem nações-júnior que deveriam deixar assuntos como este aos membros permanentes do Conselho de Segurança. Parece que os Estados Unidos podem ter endossado a iniciativa deles com o pressuposto de que falharia e fortaleceria a argumentação dos EUA. Não foi o que aconteceu. O Brasil e a Turquia tiveram sucesso. Pelo menos é o que pensam. E não tencionam ser tratados como nações-júnior que têm de esperar pelos mais velhos. Pensam, na verdade, que os Estados Unidos deveriam saudar o seu acordo com o Irão e retirar a resolução.

Entretanto, todos os olhos estão virados para a Coréia. Em 26 de Março, afundou-se um navio da Coreia do Sul. De início, os sul-coreanos disseram pensar que se tratava de um acidente. Mas, dois meses depois, o que é um tempo suspeitamente longo, anunciaram ter provas de que um submarino norte-coreano tinha afundado o navio com um torpedo. Alguns analistas sul-coreanos sugerem que esse navio, que estava envolvido num exercício militar conjunto com os Estados Unidos, foi na verdade afundado por erro por um submarino norte-americano. Esta sugestão foi ignorada pela imprensa mundial, que prefere debater os motivos da Coréia do Norte ter afundado o navio. Hillary Clinton diz não compreender por que eles fariam uma coisa dessas.

Seja como for, a Coréia do Sul rompeu as sua relações existentes com a Coréia do Norte, que atuou de forma recíproca. O atual governo conservador da Coréia do Sul acabou agora com quaisquer remanescentes da “política do sol”, do anterior presidente, em relação à Coréia do Norte. Os Estados Unidos querem uma resolução do Conselho de Segurança. A Coréia do Norte afirma que, se for aprovada, porá termo à cooperação com as inspeções internacionais das suas instalações nucleares.

Assim, estamos na diplomacia temerária de alto nível. E os mercados mundiais refletem um extremo nervosismo. Que vai acontecer? Obviamente, todos representam para a sua audiência doméstica. O governo dos EUA quer mostrar ao Congresso que está a “fazer alguma coisa” séria. O mesmo faz o governo da Coréia do Sul. O mesmo fazem os governos do Irão e da Coréia do Norte. E o mesmo, sem dúvida, fazem os governos do Brasil e da Turquia.

Quem vai piscar primeiro? Não acredito que qualquer das nações da linha da frente queira uma guerra. Cada uma delas tem demasiado a perder. A decisão real, contudo, não recai sobre nenhum destes atores, mas sobre o governo chinês. A China é que tem o poder de decisão. Que tipo de resolução irá a China apoiar em qualquer dos dois casos? Pequim obviamente quer muito que todos se acalmem, e que se mantenham calmos. O problema é que a diplomacia temerária pode ser um jogo perigoso quando o mundo – a sua geopolítica e a sua economia – está tão caótico e volátil. Acidentes podem acontecer. Algum oficial militar, com o dedo no gatilho, pode cometer um erro – seja acidental ou deliberadamente.

Vivemos uma época interessante.

(*)Immanuel Wallerstein é Sociólogo e professor universitário norte-americano.Interessou-se pela política internacional quando ainda era adolescente, acompanhando a atuação do movimento anticolonialista na Índia. Obteve os graus de B.A. (1951), M.A. (1954) e Ph.D. (1959) na Universidade de Columbia, Nova Iorque, onde ensinou até 1971.

Tornou-se depois professor de Sociologia na Universidade McGill, Montreal, até 1976, e na Universidade de Binghamton, Nova York, de 1976 a 1999. Foi também professor visitante em várias universidades do mundo.