16 dezembro 2008


O PETRÓLEO TEM QUE SER NOSSO

Aconteceu nesta segunda, 15, manifestações em todo país contra a intenção do governo federal de realizar a 10ª Rodada de Leilões das Reservas de Petróleo do país.

A atividade em Porto Alegre contou com uma concentração na esquina Democrática, caminhada e ato no lugar onde estava a torre de petróleo colocada na Praça da Alfândega na década de 60 pelo movimento popular e político que dava continuidade a campanha O Petróleo é Nosso.
O movimento, que reuniu partidos – PT, PCB, PCdoB, PSol, Pstu -, entidades sindicais e estudantis denunciam que o governo FHC privatizou a Petrobrás e, desde então, são feitos leitões de reservas e ações, dando a particulares, nacionais e estrangeiros, parte da exploração do petróleo brasileiro.
Esta situação não foi modificada com o governo Lula.
Nestes governos, a Petrobras se transfomou em uma multinacional como as outras, servindo aos interesses dos acionistas de todo o mundo e não às necessidades do povo brasileiro.

Agora estes investidores internacionais querem o petroleo encontrado na camada Pré-Sal do solo do país.
Com todo o petroleo que o país possui, no entanto, a gasolina, o olóeo diesel, o gaz de cozinha sao, no Brasi, dos mais caros do mundo. Influencia ainda que o preço do transporte seja alto.

O movimento de sindicalistas, políticos, entidades populares e estudantis querem que o PRÉ-SAL seja da PETROBRAS! E que a PETROBRAS seja dos BRASILEIROS!

12 dezembro 2008

Abaixo a ditadura!

A rainha de azul do Amargo Santo da Purificação Contra a Ditadura Militar e o AI-5

A rainha de azul caiu enquanto esperávamos para iniciar as atividades. A bela rainha de azul caiu de cima de suas pernas de pau. Belas pernas de pau!

Corremos para acudi-la. Mexe aqui e ali. Ela estava bem, e considerou desnecessário maiores cuidados, e com razão, pois a rainha era bela, altiva, forte e corajosa. E seguimos no ato.

Dizer que o tempo não estava bom, não é inteligente. O tempo não está nem ai para ser qualificado desta forma. Assuma a responsabilidade a espécie quem tem contribuído para se desnortear, responsabilizando depois o tempo de estar desnorteado.

O tempo do ato iniciou com sol, depois fechou. Em seguida chuviscou. Parou, abriu o sol. Fechou, choveu forte. Parou, choveu forte. Parou, choveu forte. O publico sob chuva, sombra, sol, garoa, na calçada, sobre as arvores, mais uma vez.

Aquele público é o publico da peça. Os que se foram eram os que estavam trabalhando, em horário de almoço, com pouco tempo, tendo que ir embora, que o patrão não iria gostar, arriscando o emprego, ainda mais num tempo de mais uma idiotice da espécie do sistema, mas/e , olhando o relógio, ficou mais um pouquinho. Mas não reduziu, ao contrário, a quantidade foi aumentando, aos poucos, com os que tinham tempo para ver toda a peça ou apenas uma parte e os iam aderindo e ficando de vez, depois se justifica pelo atraso de alguma coisa.
No final da apresentação da peça, os rostos molhados, de águas de lágrimas e chuva que, em nenhum momento dispersou o público, e iniciou marcha emocionada pela memória dos que lutaram e morreram pelo fim da Ditadura Militar e a redemocratização do país.

A apresentação foi magistral.

Vejo pela terceira vez. Esta mais madura. O pessoal está mais relaxado. Aperfeiçoaram partes que estão mais definidas e eficazes em suas mensagens.
É para ser executada em dia de sol. Ou, pelo menos, que não chova. Os atuadores precisam da luz, do ar, do chão e do espaço das ruas. A peça é espetáculo de rua que rememora a vida do comunista Carlos Marighella. Precisam destes elementos em seu espírito e corpo para ganhar vida.

No espírito da data e repetindo a coragem de vida do sujeito da peça, Carlos Marighella, a apresentação decolou no chão molhado, num publico encharcado, que foi ficando, ansioso pela água que atrapalhava os olhos de ver aquilo seria aquilo mesmo?

E como não poderia deixar de ser, pela terceira vez, quando terminou, tinha um monte, uns pela primeira, outros pela segunda, e outros ainda pela terceira vez, chorando.
Como aquela era apenas uma parte da atividade, a Tânia, explicou que seguiríamos dali em marcha para a Esquina Democrática para dar continuidade ao ato pela abertura dos arquivos e punição dos crimes de tortura. Ate a Esquina Democrática a marcha engordou.
Uma garota, que não quis dizer o nome, com uniforme de uma farmácia, perguntou o que era aquilo? Não entendeu. O quê? Quando foram estas torturas, quem foi morto? Mas foi aqui no estado? Este ano?

O todo foi um ato da “Memória que não esquece Isto ainda acontece”. A presença do exercito nas ruas, a censura aos meios de comunicação, a prisão, o exílio, o banimento, a morte, a tortura eram métodos de poder político militar. E até hoje o povo não sabe disto.

A garota ficou incrédula, como isto acontece?

Bater, prender, torturar.

O sistema ainda reage assim contra os que lutam contra ele. E, como nossa memória não esquece diversos grupos se encontraram na Esquina Democrática, Porto Alegre, para protestar contra o governo federal, estadual e municipal. E os que lá estavam eram os anarquistas, os socialistas, os comunistas, uns pouquíssimos ex-presos e exilados pela Ditadura Militar. O objetivo é denunciar que – 40 anos depois do AI 5 - a violência que o regime militar utilizou para se manter como poder, continua sendo praticada cotidianamente contra trabalhadores, estudantes, sem terra, nas ruas, delegacias e presídios. A violência se espalhou contra a população que vive acuada.

O ato que iniciou com o Amargo Santo da Purificação, da tribo de atuadores Oi Nós Aqui Traveiz, terminou com os que lutam junto, mesmo que só se encontrem em tempos de dificuldades.

02 dezembro 2008

O periodo histórico da Ditadura ainda não acabou


Reverter o
quadro histórico
Sou testemunha viva da perseguição que este jornal sofreu na época da Ditadura Militar, e neste momento histórico, eivado de corrupções.
Nada justifica o gasto publico para a existência da justiça se ela não faz Justiça.


A Tribuna da Imprensa está em dificuldades.
O que parece ser dificuldades econômicas é, na verdade, perseguição política.
Sou testemunha viva desta perseguição. Não falo do período lacerdista, pois não o vivi, mas do que veio no período da Ditadura Militar, quando não mais seguia a orientação do falecido ex-governador da Guanaba.
A ditadura militar submeteu os órgãos de imprensa a controle, mas com o aparato militar e presença física, acho que é imbatível.
A TI, de antes do controle, estava em ascensão jornalística. Tínhamos estratégias de cobertura dos movimentos sociais, especialmente das lutas estudantis, parlamentares, sociais.

Alguns jornalistas contribuíram para a perseguição do grupo que trabalhava ali. Foram presos, foragidos, viveram na clandestinidade. Não sei se mortos, mas o clima de horror atingiu diversas vezes a redação.
O jornal foi publicado diversas vezes com espaços em branco. Da minha parte, então, era essa a resposta. Censurou? Assuma a responsabilidade. A minha era entregar as páginas de economia, primeiro, e, internacionais, depois, prontas para o diagramador. E ia embora. Soube muitas vezes que ele ameaçou mandar me prender se não esperasse o fim do trabalho dele.

Sempre disse que cada um fazia o seu trabalho. O meu não era esperar o dele.
A TI foi perseguida e continua perseguida. Os fundamentos desta situação só desaparecerão num futuro, numa história muito adiante. Neste momento é necessário dizer que há injustiça continuada que precisa cessar. O que precisa cessar, portanto, não é a TI. Para garantir a história futura.

A ação de reparação da parte ilíquida do processo, que deveria possibilitar a real recuperação da empresa, não foi feita, deixando a mostra que o interesse central da empresa não é enriquecer.

Na parte líquida, o juiz de primeira instância condenou a União ao pagamento da indenização. Mas, desde 1982, até este ano de 2008 (26 anos), a decisão está parada nas instâncias superiores. O processo não inclui o atentado terrorista sofrido pelo jornal em 1981, que destruiu prédios com maquinas, redação, arquivo (a minha história de trabalho – de aprendizado de ser jornalista, estava lá), e outros departamentos que compunham a empresa. Acho um erro, é a parte mais valiosa da empresa. Falo da minha história, mas é nada se olharmos os personagens e os fatos históricos de que ela participou. Independente de alguém gostar, ser a favor ou a odiar, a inteligência sempre vai considerar que a história deveria guardar os originais para entender melhor a sociedade brasileira. Não há como fugir da busca da inteligência com informação correta.
A imprensa hoje (02/12/08), por exemplo, ZH de Porto Alegre, informa que buscando contato com o Ministro do STF responsável pelo processo, Joaquim Barbosa, informou que ele está de licença médica e não se pronunciaria. Má hora para ficar doente, mas isto acontece. Entretanto, o processo está em sua mesa, segundo informação da TI, há quase 3 anos.
A presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio, Suzana Blass faz relato sincero da situação. Diz que a Tribuna da Imprensa não paga Fundo de Garantia do Tempo de Serviço nem INSS desde 1995. Que os empregados não receberam os salários de outubro e novembro. E que houve atrasos em outros meses (pagos sob ameaça de greve). Que a situação da empresa é grave. Foi lá um dia e viu que não havia dinheiro para comprar tinta para impressão. O jornalista Hélio Fernandes afirma, em documento público, que o primeiro compromisso é que “essa primeira indenização será toda destinada ao pagamento de DÍVIDAS obrigatórias contraídas por causa da perseguição incessante comprovadamente sofrida.”
Portanto, para se fazer justiça, longe de ser econômica ou histórica, é social e política, é necessário que o magistrado do STF se recupere logo de sua licença médica, e dê seu veredicto dizendo que a União deve e deve pagar a TI.
Luix

29 novembro 2008

Professores encerraram a greve e iniciaram movimento FORA YEDA


Depois de 14 dias de greve os professores da rede estadual de ensino decidiram encerrar a paralisação e iniciar movimento político FORA YEDA.
Todas as lideranças dos grupos políticos que compõem o Conselho Geral do CPERS Sindicato avaliaram que a sociedade gaúcha não pode permitir “a continuidade do governo”, devendo a categoria organizar em cada localidade um comitê do movimento FORA YEDA.

Fora Yeda
A idéia, expressa pela presidente da entidade Rejane de Oliveira, é “denunciar, dia após dia, que quem não respeita a educação, não pode continuar governando o estado”. Para as avaliações da direção do CPERGS/Sindicato, “a luta é política e que não há alternativa com este governo”.
De forma geral as avaliações consideraram que a paralisação foi vitoriosa ao conseguir que o governo recuasse e retirasse o regime de urgência para a votação do projeto de piso salarial enviado à assembléia e o compromisso dos deputados de que não o votarão no fim do ano nem no recesso escolar.

As lideranças consideraram que obtidos estes compromissos, a luta pelo pagamento dos dias parados em que se envolveram nos últimos dias com o governo, estava desgastando a greve e que esta luta vai continuar, agora na Assembléia Legislativa, com o compromisso dos deputados do PT, PC do B, PSB, DEM e PDT de votarem um Decreto Legislativo anulando o decreto do governo, que cortou o ponto e descontou os dias parados dos professores.
Algumas falas indicaram a possibilidade da necessidade de convocação de uma nova assembléia geral, antes ou no início de março, para avaliar a mobilização e os movimentos do governo.

Continuidade da luta
A assembléia aprovou, além do fim da greve, a continuidade da luta pelo: Piso salarial Nacional como básico do Plano de Carreira; Cumprimento de 1/3 de horas-atividade; Inclusão dos funcionários de escola na Lei do Piso Salarial Nacional; Defesa dos Planos de Carreira dos Professores e Funcionários; e Denuncia do Projeto Político representado pelo governo Yeda.
A proposta de mobilização da categoria neste final e início do ano próximo foi definida com:
Manter a articulação construída com os Parlamentos Estadual, Municipal e Nacional, realizando:
Vigília permanente na Assembléia Legislativa, mesmo durante o recesso escolar. Dar divulgação do nome dos Deputados que assinaram a carta-compromisso de revogação do decreto do governo cortando o ponto e descontando os salários; Construir calendário unitário de lutas com o Funcionalismo Público; A defesa dos órgãos públicos ameaçados pelas OSCIPs; Realizar manifestações de repúdio nas agendas da Governadora e da Secretária de Educação (aproveitar os eventos que ocorrem nas regiões); Impulsionar a criação de Comitês do Movimento Sindical, Popular, Partidos Políticos e Sociedade Civil, pelo “movimento Fora Yeda”; Apoiar todas as lutas, inclusive a dos Pedágios, que tenham o objetivo de impedir o desmonte do Estado e do Serviço Público; Encontro estadual com representações da base da categoria, em fevereiro, para discutir as estratégias de luta para o início do ano letivo; Campanha de Solidariedade com os Trabalhadores em Educação que tiveram os salários cortados e necessitam de cestas básicas e medicamentos; Contribuir com a Campanha de Solidariedade aos atingidos pela enchente no Estado de Santa Catarina que necessitam de roupas e/ou medicamentos.

27 novembro 2008

Assembléia do magistério nesta sexta

Comando de greve do magistério estadual gaúcho marcou assembléia geral para esta sexta, 28, no Gigantinho.

No ato realizado ontem, 26, em frente ao Palácio Piratini, com cerca de dois mil professores e pais de alunos, os discursos indicavam que a luta vai continuar em março. Portanto, a tendência é de encerramento da paralisação neste momento.

Se a paralisação do movimento for aprovada, os professores ficam com a garantia de 37 deputados de que não votarão o projeto do governo estadual no recesso do ano letivo.

O projeto da governadora Yeda, segundo os dirigentes do Cpergs, fixa como teto os R$ 950 reais propostos como piso na proposta do governo federal.

17 novembro 2008

A pressão do funcionalismo aumenta


Com apoio das categorias do funcionalismo publico estadual e centrais sindicais os policiais fazem protesto estadual exigindo negociação, e fortalecendo a greve dos professores por tempo indeterminado

A marcha da Policia Civil por dignidade no trabalho


Os policiais civis do Rio Grande do Sul realizaram hoje, 17, potente manifestação com a Marcha ao Piratini, afirmando a indignação com o descaso do governo Yeda com a área da segurança dos gaúchos.
Mais de 1500 policiais saíram de frente do Palácio da Polícia, às 15 horas, e foram até a Praça da Matriz.

No carro de som, os policiais disseram “não querer mais carregar o fardo de não atenderem com dignidade a sociedade. De não poderem oferecer segurança de verdade e não de faz de conta.” São mais de um mil e 500 inquéritos sem apuração, dizem.


Segurança sem provocação
A direção da Secretaria de Segurança sabe a diferença do que é tratar os movimentos sociais e provocar os policiais civis.

Enquanto que na caminhada dos professores, na sexta feira, 14, colocou motos, helicóptero e o Choque para acompanhar e recepcionar os professores em frente à Praça da matriz, hoje, escalou os próprios policiais civis da Delegacia de Pronto Atendimento – os Volantes – e o Grupo de Operações Especiais – GOE – para fazer a proteção do Palácio Piratini. Não houve problemas, ao contrário, na chegada a Praça direções sindicais confraternizou com os policiais civis em serviço.

A novidade na manifestação foi o documento de apoiadores do deputado Marco Peixoto, líder do PP, na Assembléia Legislativa, da região de Santiago e região, sugerindo a ele que saísse da Assembléia, prédio na própria Praça da Matriz, e fosse dar apoio a manifestação dos policiais civis.

HH, Protógenes e deputados apoiadores
A presidente nacional do Psol, Heloisa Helena, o delegado Protógenes Queiroz, a deputada federal Luciana Genro,do PSol, os deputados do PT Elvino Bon Gaz, Dionísio Marcon, Fabiano Oliveira estiveram presentes ao ato. Protógenes não discursou, mencionou apenas na conversa com os jornalistas, que só fala quando o “bandido disfarçado e investidor chamado Daniel Dantas for condenado. Seii os dados que eu coletei, por isso espero a condenação”.

Em seu discurso aos policiais civis HH afirmou que “a polícia é a única categoria que arrisca a vida para garantir a vida. Mas, para acabar com a violência é necessário de condições dignas para todos os brasileiros, especialmente os trabalhadores, e educação, cultura, lazer, esporte que ajude a policia a fazer seu serviço”.
Mas que para estas coisas se realizarem, quando uma categoria se mobiliza como a gaúcha, é necessário “um pouco de sensibilidade para que os problemas sejam tratados com seriedade”. E acrescentou: “Quem faz a segurança não são os bancos, não é a indústria, não são os ricos. Somos todos nós e a policia que merece nosso respeito”.

Conversa



No contato com o governo o comando do movimento entregou documento, recebido pelo chefe da Casa Civil, José Alberto Wenzel, acompanhado do Secretário de Segurança, Edson de Oliveira Goulart e a chefa adjunta da Casa civil, Ana Severo. Não houve entendimento. O presidente do Sindicato dos Agentes da Policia Civil, Isaac Ortiz, tinha afirmado que “cada gesto do governo aproxima mais a categoria da greve geral, por tempo indeterminado”.
Nova reunião ficou agendada para sexta-feira. A Casa Civil vai continuar analisando as reivindicações dos policiais.

Abaixo o documento dos policiais entregue ao governo pela Servipol e pelo UGEiRM
SINDICATO

Of. n" 90/2008 Porto Alegre, 17 de novembro de 2008.
Excelentíssima Senhora Governadora:
As entidades de classe signatárias vem há muito tempo tentando ver serem atendidas algumas reivindicações que entendemos justa à classe policial, destarte sem a devida atenção pelos sucessivos Governos, inclusive pelo atual.
Diante disso, através de um reclame de toda a base da categoria, estamos realizando esse ato público para sensibilizar Vossa Excelência para que nos atenda e, pelo menos, ouça nossas reivindicações, o que não vem acontecendo de forma sistemática.
Dentre elas as mais importantes são:
• Aposentadoria Especial
• Pagamento das horas extras
• Remuneração das escalas de sobre aviso
• Não a "meritocracia" para atividade policial
• IPE Público
• Reestrutu ração de cargos dos Agentes
• Reajuste das diárias de viagem
• Reajuste do Vale-refeicão
• Promoções
• Pagamento sob forma de subsídio = ao de Brasilia/DF

Em primeiro lugar alertamos que não podemos aceitar como discurso de Governo que a concessão da reposição dos 19% (lei 10.395/95 - lei Brito) seja proferido como aumento, já que mais de 95% dos Policiais Civis já estão recebendo esse índice por decisões Judiciais.

Na mesma esteira não negociaremos matriz salarial como pauta de negociação, já que a matriz é lei e deve ser cumprida pelo Estado. Inconcebível seria um Governo vir á mesa de negociação com uma categoria e colocar em pauta se paga ou não o que já está estatuído em lei. Indaga-se; será que o Governo tem o livre arbítrio de não aplicar a lei, em especial por ser um dos princípios norteadores da Caria Política, ou seja, a legalidade (art. 37), que vincula o administrador público.

No que concerne a Aposentadoria Especial o Governo do Rio Grande do Sul (somente junto com Espírito Santo), diferentemente de outros 25 entes federados não concedem aposentadoria especial aos policiais civis. Não aceitamos qualquer discurso que conteste a legalidade, revogabilidade ou recepção da referida lei complementar 51/85 posto que o único órgão no Brasil que pode decidir sobre essa circunstância è o Pleno do STF e até hoje esse julgamento não existe. Ou seja, se o Pleno do Supremo Tribunal Federal não julgou a revogação ou recepção da lei complementar 51/85, ela ainda está em vigor e deve ser aplicada Portanto trata-se de uma decisão política de Governo e não técnica ou jurídica.

Horas extras estão atrasadas há meses e nem por isso os policiais deixaram de trabalhar além da carga normal de 40 horas semanais. Escalas de sobre aviso fazem do policial escravo e refém do serviço público e nunca foram remuneradas. O vale refeição há muitos anos não ê reajustado e ainda está adstrito a um desconto que acaba tornando-se um mero adiantamento parcial de salário no dia 20 de cada mês. As diárias de viajem a menos de R$ 50,00 não possibilitam que um policial possa suprir sua subsistência (pelo menos de forma digna) durante uma viagem de trabalho As promoções atrasadas há quase dois anos tornam a carreira "trancada", sem ascensão funcional.

O novo plano de carreira ("meritocracia") intentado a ser implantado no Estado (do qual ainda não se tem conhecimento pleno), mas já conhecido por ter sido aplicado em outros Estados Governados pelo PSDB, já demonstrou que não tem eficácia no âmbito da carreira policial pelas particularidades exercidas pelo Agente de Policia.

Nesse sentido encaminhamos um ante-projeto de reestruturacão de cargos dos agentes policiais que adéqua à nova realidade da carreira policial nos moldes de como já definiu o Conselho Nacional de Justiça através do pedido de providências 1238/2007, destarte, quase um ano de tramitação, ainda não temos uma resposta do Governo quanto ao referido ante-projeto.

Por derradeiro, no que concerne a remuneração dos Agentes Policiais, não há uma atualização (reposição) há mais de 13 anos o que enseja também a pauta do movimento. Nesse sentido gize-se que à Polícia Civil é garantido o direito de ser remunerada sob a forma de subsídio (artigo 144 § 9° da CF) e tendo-se como parâmetro o subsidio da Policia Civil do Distrito Federal, entendemos justo recebermos a mesma remuneração paga em Brasília, já que nossa Policia é tão eficaz (ou melhor) que naquele ente federado, e não se pode conceber diferentes salários para o mesmo serviço.

Não obstante não aceitaremos qualquer índice de reposição salarial que não seja igual aos deferidos aos Delegados de Polícia já que se isso acontecer, causará um caos institucional, criando um abismo remuneratório dentro da carreira policial como já aconteceu no passado. O passado nos permite aferir que índices diferenciados aos Delegados (grandes diferenças remuneratórias) deflagram uma guerra interna de funções e atribuições não propiciando um bom serviço à comunidade. Não desejamos deixar a população desguarnecida de proteção policial em virtude de problemas remuneratórios internos, já que a função do Agente de Polícia é tão importante quanto a do Delegado. Entendemos justo um aumento salarial para os Delegados, mas não podemos conceber que essa mesma justeza não seja aplicada aos Agentes.

Certos de que o Governo do Estado irá se sensibilizar com a categoria policial, carreira de Estado que vem sendo massacrada ano após ano, esperamos uma audiência com Vossa Excelência para discutirmos e sermos atendidos em nossa pauta reivindicatória.
Atenciosamente,
Allan Denis Rocha de Mendonça
Presidente do SERVIPOL
Isaac Delivanoruz
Presidente UGEIRM

15 novembro 2008

Professores gaúchos entram em greve por tempo indeterminado

Os professores estaduais gaúchos decidiram entrar em greve, por tempo indeterminado.
A assembléia geral, repleta, mas não lotada, com cerca de 7 mil professores, exige que o governo Yeda retire o projeto que fixa o teto salarial em 950 reais enviado à Assembléia Legislativa. O projeto fere o Plano de Carreira, visto que corta a progressão salarial.
Assim, o ano letivo ameaça não terminar em 2008, no Rio Grande do Sul e coloca para o restante dos professores do país questões que ficaram da Assembléia dos professores gaúchos.
Das manifestações autorizadas pela Direção do CPERS, para serem apresentadas à Assembléia, duas diferiram das muitas demais, em favor da proposta do Conselho Geral da entidade, de greve já.
Uma favorável à greve, mas em março, apresentada pelo representante do Centro de Estudos e Debates Socialista – Clovis Oliveira. Fundamentava que não era o momento da deflagração, mas da preparação da luta.
Outra, apresentada pela representante do Pó de Giz, grupo considerado de direita na categoria. Considerava a greve importante, e alertava para o fato de não abandonar a pauta que vinha mobilizando a categoria. Que a direção do CPERGS estava escondendo que no plano nacional a CNTE negociava com o Conselho Nacional de Educação reformular os planos de carreiras das categorias dos professores em todos os estados. E que a luta contra o teto da Yeda não deveria abandonar a luta pela pauta já apresentada e que vinha mobilizando a categoria.
A greve foi aprovada por amplíssima maioria.
Imediatamente o governo Yeda respondeu a manifestação dos professores. Diz que as negociações estão abertas, mas deve cortar ponto dos professores, nas palavras da Secretária Mariza Abreu, da educação. A secretária de Educação ameaçou substituir os professores e cortar o ponto, descontando os salários dos dias não trabalhados. Yeda Crusius diz não entender porque os professores não aceitam o piso de R$ 950. “A negociações estão abertas. O movimento deles é um movimento deles, eles têm total liberdade ou autonomia para fazer”.
A decisão dos professores vai interferir, daqui prá frente, diretamente na pauta da Assembléia Legislativa. É lá que se encontra a proposta do governo de teto salarial para os professores. E é lá que há o entendimento de que a proposta procura o confronto com a proposta de piso salarial para os professores formulada pelo governo federal.

A Brigada Militar colocou um aparato montado em motos, helicóptero que acompanhou toda a passeata e a concentração em frente ao Palácio.
Ao chegar a Praça da Matriz, onde está a sede do executivo, do legislativo, do judiciário e a igreja matriz do catolicismo gaúcho, a Brigada recepcionou os professores com um esquema em que usava brigadianas. Foram as mulheres da força policial quem fez o cordão de proteção do Palácio do governo.

Não houve incidentes. Mas o helicóptero da Brigada Militar voou o tempo todo sobre a manifestação dos professores.
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Segunda feira, 17, os servidores da policia civil fazem paralisação e caminhada em direção a Praça da Matriz.
A manifestação está marcada para as 14 horas, em concentração em frente ao Palácio da Polícia.

03 outubro 2008


Os que lutam para além do pragmatismo e o horizonte do capital

Os estudantes da UFRGS envolvidos na luta social e intelectual por um mundo coletivo socialista voltaram a pintaram o muro com a inscrição questionando para que, e a quem, serve o conhecimento produzido na Universidade.
A pintura foi depredada por setores do movimento estudantil universitário, cuja postura tem sido antidemocrática e, no caso do mural, fascista. Um estudante ligado ao MEL – movimento estudantil liberdade, foi flagrado pichando a expressão artística anteriormente apoiada pela SAE – secretaria de assuntos estudantis – e encaminhado para a prefeitura universitária do campus vale. Mas, a partir da tarde da ultima terça feira, 29, foi novamente pintada. Para os estudantes, ela representar o questionamento que deve estar na cabeça de funcionários, professores, estudantes e de todos que buscam outra a sociedade e outros caminhos fora do pensamento único do neoliberalismo.

21 setembro 2008

À Carlos Marighella

Um espetáculo lindo
Uma obra espetacular
Grandiosa em todas as dimensões.
O Amargo Santo da Purificação
Em 1980 a Terreira da Tribo de atuadores Oi Nós Aqui Traveis já existia e tentou montar peça teatral baseada no livro Em Câmara Lenta, de Renato Tapajós, com o titulo “O Amargo Santo da Purificação”. Não conseguiram. A censura militar não deixou.
Ao retornar à idéia de representar o período seguinte até ao atual, o grupo retoma a obra proibida, seus textos, e encontra um personagem que poderia ser a linha de coerência destas últimas décadas da história do Brasil. E, ao contar a história da vida de Carlos Marighella, voltam até Getúlio e avançam aos dias atuais. Marighella é teatro de rua cantado em seus próprios versos, musicados de forma que aprofunda sua poesia.
O guerrilheiro, entretanto, foi apresentado ao Oi Nós em um bar de Salvador, em 2003 quando excursionavam com o espetáculo A Saga de Canudos e encontraram a viúva de Marighella, Clara Charf, e o filho dele, Carlos, que cantou a debochada e alegre Marcha do Cacareco.

Paulo Flores, atuador do Ói Nóis - Carlos Marighella se tornou uma referencia para o Ói Nóis. O exemplo dele levou a resistência armada. Ao pensar em contar a história deste período, pensamos em Marighella e resgatamos o título da outra peça que foi censurada nos anos 80. Quando estivemos na Bahia, conversamos com o neto dele que nos apresentou ao pai, filho de Marighella.
Depois, conversamos com Clara Chaf que nos apresentou o livro Rondó da Liberdade, de Marighella. O eixo principal de toda a peça são os poemas dele, que foram musicados.

Pedro de Camillis, atuador do Ói Nóis – Marighella é exemplo de ser humano. Um comunista que hoje parece diferente porque amava o povo. A trajetória dele é exemplar.
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Quando terminou a apresentação primeira da peça, o público que a acompanhou numa ida e vinda, no espaço de cerca de 100 metros da rua dos Andradas, ou Rua da Praia, na Praça da Alfândega, estava todo com as emoções em frangalhos, esgotando o físico e ao mesmo tempo leves e livres.
Procurávamos nos recompor, especialmente buscando a respiração para conseguir falar uns com os outros, pois só quando a peça terminou é que conseguimos nos ver. Até então, centenas de pessoas, andando de um lado para o outro, só conseguimos ver os atuadores jogando suas incríveis interpretações dos personagens que iam contando a história d’O Amargo Santo da Purificação.
Olhos molhados, olhávamos em volta e para cima, sob a sombra das árvores e o amarelo do sol do meio dia. A impressão era de abandono. Porque terminou se já estávamos ficando viciados em algo tão bom. Mas terminou porque os signos teatrais indicaram e as palmas explodiram em vivas, vivas, vivas. E, através dos olhos embaçados, procurávamos identificar as pessoas conhecidas.
Mas o prenúncio de que aquilo iria acontecer ocorreu um pouco antes. Não era só a platéia que estava emocionada. Olhos de uma das atrizes, ao cruzar com os meus, indicava a situação de aperto no peito.
Eles fazem muito isso com o público. Olham para as pessoas que estão na rua assistindo.
A atriz, acho, também estava emocionada, olhos marejados.
Muitos foram e ficaram porque sabiam que haveria o espetáculo.
Muito, muitos estavam passando, apressados, alguns no horário do almoço, outros apenas fazendo outra coisa quando foram ficando em torno, correndo de um lado para outro, se envolvendo com o enredo, já participando sem saber, fugindo de um soldado da ditadura, mas procurando outro lugar para olhar para trás e continuar vendo o espetáculo que fazia parte, mas também assistia.
Quando tudo terminou, só percebemos o que aconteceu quando procuramos fôlego para falar com as pessoas que conhecíamos e as encontrávamos tão desestruturadas quanto nós, falando pausadamente, procurando respirar para ser compreensível.
E ai, Jeferson, e ai Temis e ai Brizolinha?
Povo que chora junto
Jamais será vencido.

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A praça
A poesia
A música
A história
A memória

Nunca mais as mesmas

Quem – de fato - permaneceu no calçadão da praça da alfândega entre as 12h 10min e as 13h e 50min de sexta-feira, 19/09/2008, não pode ter ficado incólume.
Mais uma vez a terreira, a arte, a cultura popular, o posicionamento político ressignificaram o que nossos olhos, ouvidos e memória acreditavam já conhecidos.
Deslocamentos de sentidos, de espaços, de tempos, da relação espaço-tempo.
Não foi apenas a vida de um homem, mas a formação da cultura brasileira, em seus encontros e choques que tiveram lugar na peça “o amargo santo da purificação”, criada, produzida e encenada pela tribo de atuadores “ói nóis aqui traveis”.
Foi nossa história como povo, em sua feiúra e em sua beleza.
Alguns dos momentos mais marcantes da vida política brasileira, em sua relação com a criação artística e expressão estética foram traduzidos em beleza e dor e riso.
Algumas das teorias que embalaram as opções que ainda hoje nos influenciam ficaram marcadas no chão da praça e nos olhos de quem viu.
Universalidades.
Mas tão bem expressas na singularidade de uma vida!
Carlos Marighella...
Que fundamentos tão fortes embalam os sonhos e ações de uma vida que se permite viver em si um projeto de nação?
Tão fortes que não se prendem às lutas ideológicas que permeiam seu tempo, antes resistem aos dogmas que elas acabam por constituir; não teme rupturas e assume as contradições que a vida vai apresentando.
As crenças de muitas gerações e diversas culturas entremeadas no fio da existência de um indivíduo.
Tudo isso e tanto mais é possível sentir e viver acompanhando a apresentação de ‘o amargo santo da purificação’.
A resistência do revolucionário Marighella, um herói do povo brasileiro, no teatro revolucionário da resistente terreira da tribo.
Ao final, risos e lágrimas e a vontade de que cada um de nós pudesse dizer “vai, fulana, ser Marighella na vida”.
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O final da peça diz muito.
A Alameda Casa Branca é rebatizada como Alameda Carlos Marighella.
É uma sugestão, achamos.
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Quem é você Marighella?
Um negro baiano, de Salvador, Bahia, em 5 de dezembro de 1911. Filho de imigrante italiano e uma negra descendente dos haussás, etnia negra conhecida pela combatividade nas sublevações contra a escravidão. De origem humilde, ainda adolescente participava das lutas sociais. Aos 18 anos iniciou curso de Engenharia na Escola Politécnica da Bahia e tornou-se militante do Partido Comunista, dedicando sua vida à causa dos trabalhadores, da independência nacional e do socialismo.

Vai ser Marighella na vida
Foi preso pela primeira vez em 1932, após escrever um poema contendo críticas ao interventor Juracy Magalhães. Liberto, interrompeu os estudos universitários no 3o ano, ainda naquele ano deslocou-se para o Rio de Janeiro. Em 1o de maio de 1936 foi novamente preso e durante 23 dias enfrentou as terríveis torturas da polícia getulista de Filinto Müller. Permaneceu encarcerado por um ano e, solto pela “macedada” – nome da medida que libertou os presos políticos sem condenação -- deixou o exemplo de uma tenacidade impressionante.
Transferindo-se para São Paulo e buscou reorganizar os revolucionários comunistas, duramente atingidos pela repressão, e o combate ao terror imposto pela ditadura de Getúlio Vargas.
Em 1939 foi novamente preso e mais uma vez torturado de forma brutal na Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo, se negando a fornecer qualquer informação à polícia. Na CPI que investigaria os crimes do Estado Novo o médico Dr. Nilo Rodrigues deporia que, com referência a Marighella, nunca vira tamanha resistência a maus tratos nem tanta bravura.
Recolhido aos presídios de Fernando de Noronha e Ilha Grande pelo seis anos seguintes, dirigiu sua energia revolucionária ao trabalho de educação cultural e política dos companheiros de cadeia.

Não se deixou cooptar por Getúlio
Anistiado em abril de 1945, participou do processo de redemocratização do país, foi eleito deputado federal constituinte pelo estado da Bahia. Foi apontado como um dos mais aguerridos parlamentares de todas as bancadas, proferindo, em menos de dois anos, cerca de duzentos discursos defendendo, invariavelmente, as aspirações operárias, a denuncia das péssimas condições de vida do povo brasileiro e a crescente dominação cultural e política imperialista no país.
Cassado pela repressão do governo Dutra, Marighella retornar à clandestinidade em 1948, condição em que permaneceria por mais de duas décadas, até seu assassinato. Nos anos 50, em São Paulo, participa das lutas populares em defesa do monopólio estatal do petróleo, contra o envio de soldados brasileiros à Coréia e a desnacionalização da economia. Entre 1958/59 retoma reflexões em direção do problema agrário, redigindo o ensaio “Alguns aspectos da renda da terra no Brasil”. Nesta fase visitaria a China Popular e a União Soviética, e anos depois, conheceria Cuba.

Se entrega Corisco,
Não se entrega, não.
Mais fortes são os poderes do povo.
Após o golpe militar de 1964, Marighella foi localizado por agentes do DOPS carioca em 9 de maio num cinema do bairro da Tijuca. Enfrentou os policiais que o cercavam com socos e gritos de “Abaixo a ditadura militar fascista” e “Viva a democracia”. Recebeu um tiro a queima-roupa no peito. Descrevendo o episódio no livro “Por que resisti à prisão”, afirmaria: “Minha força vinha mesmo era da convicção política, da certeza (...) de que a liberdade não se defende senão resistindo”.

Marighella fez de sua defesa um ataque aos crimes praticados pela Ditadura Militar. Um movimento de solidariedade forçou os militares a aceitar um habeas-corpus e sua libertação imediata. Liberto mais uma vez intensificou o combate à ditadura utilizando todos os meios de luta na tentativa de impedir a consolidação de um regime ilegal e ilegítimo, que mantinha o país sob terror policial, os sindicatos sob controle e as garantias constitucionais dos cidadãos suspensas. Neste período Carlos Marighella aprofundou as divergências com o Partido Comunista, criticando seu reformismo e imobilismo.

Em dezembro de 1966, comunicou em carta à Comissão Executiva do PCB, seu desligamento da mesma. Deixou clara a disposição de lutar revolucionariamente junto às massas, em vez de ficar à espera das regras do jogo político e burocrático convencional. Funda, em seguida, a ALN – Ação Libertadora Nacional para, de armas em punho, enfrentar a ditadura.

O dever de todo revolucionário
É fazer a revolução.

Não pedimos permissão para fazer atos revolucionários.
Temos compromissos só com a revolução.
A luta de guerrilha é tática para a luta política.
É preciso não ter medo,
É preciso ter coragem para dizer que o homem que tem ser livre.

A partir de 1968, o regime militar o aponta como o Inimigo Público Número Um, transformando-se em alvo de uma caçada que envolveu, a nível nacional, toda a estrutura da polícia política.
Na noite de 4 de novembro de 1969 foi morto numa emboscada preparada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, na Alameda Casa Branca, na capital paulista.
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(LX/Zz)

07 setembro 2008

AS-PTA Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa apontou, em seu boletim Número 409 – de 06 de setembro de 2008, as insuficiências da matéria publicada no jornal Valor Econômico em 29 de agosto. A reportagem é sobre a criação do Programa Amaggi de Soja Responsável, da empresa Amaggi, de esmagamento e exportação de soja, do Grupo André Maggi, da família do governador do Mato Grosso, Blairo Maggi.
Diz a nota da AS-PTA:

Segundo a matéria, “a soja transgênica ‘sustentável’ está inserida no Programa Amaggi de Soja Responsável.” Este “projeto-piloto inédito” teria o objetivo de ampliar a entrada da soja transgênica no mercado europeu.

Segundo informa a matéria, o programa consiste unicamente na colocação em prática das leis brasileiras e internacionais, como a preservação de cobertura vegetal mínima, o manejo correto de agrotóxicos, do solo, da água e a garantia de que nenhuma fazenda emprega crianças ou mão-de-obra análoga à escravidão.

A Amaggi não poderá certificar sua soja como “sustentável”, uma vez que “a certificação tem como premissa que o produto não prejudica o homem nem o ambiente, o que ainda não é comprovado cientificamente nos alimentos transgênicos”.

A matéria então explica que, “para contornar esse problema, o grupo Amaggi contratou a certificadora européia Cert ID, no Brasil sediada em Porto Alegre, para fazer a ‘verificação’ de seus fornecedores de soja. A verificação apenas atesta que as fazendas estão (ou não) seguindo padrões determinados pela empresa.”

A rejeição aos transgênicos na Europa nunca diminuiu. Ao contrário, tem se fortalecido nos últimos anos, o que levou os governos de diversos países a proibir estes cultivos recentemente. Já são sete os países europeus que tomaram iniciativas
neste sentido: a Áustria, a Grécia, a Itália, a Hungria, a Romênia, a Polônia e, mais recentemente, a França. A rejeição às lavouras transgênicas também tem crescido na Espanha e em Portugal, com a declaração de dezenas de zonas livres de transgênicos.

É incrível que, tendo o interesse em exportar, a Amaggi prefira a estratégia de tentar burlar o consumidor e enfiar-lhe os transgênicos goela abaixo, ao invés de escutá-lo e converter sua produção para não transgênica.

E, como não podia deixar de ser, a reação já está começando. Segundo informa a mesma matéria do Valor, “algumas organizações ambientais, como a Solidariedade,
já armam protestos na Holanda, a porta de entrada de vários produtos agrícolas para a Europa, contra a chegada de farelo transgênico no continente.”

02 agosto 2008


A Rede Brasileira Pela Integração dos Povos - Rebrip *- divulga nota avaliando com alegria o fracasso da Rodada Doha. Abaixo:

Movimentos sociais comemoram mais um fracasso da Rodada de Doha da OMC

Organizações e movimentos sociais do Brasil e do mundo inteiro comemoram mais um colapso das negociações para a conclusão da Rodada de Doha da OMC (Organização Mundial do Comércio). Desde que a OMC foi criada, no auge do neoliberalismo dos anos 90, estas organizações vêm questionando a validade das premissas da instituição e denunciando as graves conseqüências que a conclusão desta rodada poderia causar para os povos em diversas partes do mundo.

Essas conseqüências dizem respeito, principalmente, a liberalização do comércio de bens industriais e serviços por parte dos países do Sul, em troca da abertura de mercados no Norte para exportações agrícolas. Isto significaria a cristalização de um modelo em que os países em desenvolvimento continuariam como exportadores de commodities agrícolas - com uso intensivo de água e outros recursos naturais na sua produção, concentração fundiária e utilização de insumos químicos que resultam em um agravamento da crise sócio-ambiental -, enquanto os países desenvolvidos se manteriam como fornecedores de tecnologia e bens e serviços de alto valor agregado, bloqueando assim as perspectivas de desenvolvimento industrial e a geração de empregos de qualidade para homens e mulheres dos chamados países em desenvolvimento. E seria um golpe contra os direitos dos povos e a soberania dos países em relação à capacidade de formularem suas políticas públicas.

Ao longo da semana, cerca de trinta países tentaram sem sucesso chegar a uma fórmula que fosse capaz de acomodar os interesses em temas tão complexos como as políticas de agricultura, indústria e serviços. Mais uma vez o formato restrito e anti-democrático de tomada de decisões na OMC se revelou esgotado: dos 153 países - membro da OMC apenas pouco mais de trinta estavam presentes nas reuniões de Genebra e, na verdade, entre estes, apenas sete - Estados Unidos, União Européia, Brasil, Japão, Austrália, China e Índia - tentaram conduzir de fato o processo decisório enquanto os demais aguardavam em protesto as decisões na ante-sala.

O Brasil manteve a sua já conhecida posição, que prioriza a abertura dos mercados dos países do Norte para as exportações do agronegócio, concordando em troca em fazer importantes concessões nas áreas de redução de tarifas industriais e no setor de serviços. A insistência do Brasil em manter esta posição acabou tendo graves conseqüências políticas. Uma delas foi o estremecimento do G20, importante coalizão de países em desenvolvimento criada em 2003 durante uma reunião ministerial da OMC realizada em Cancun, quando o Brasil liderou uma posição de resistência destes países e com isso alterou a balança de poder e a correlação de forças na OMC. Desta vez, no entanto, o Brasil acabou esvaziando a sua liderança por ter se distanciado de preocupações e interesses de parceiros estratégicos da coalizão.

Este foi o caso da Argentina, que vinha liderando uma importante posição de resistência nas negociações de NAMA - a sigla em inglês para as tentativas de acordo sobre reduções nas tarifas de importação de produtos industriais que tanto interessam aos Estados Unidos e União Européia. A falta de compromisso do Brasil com os nossos vizinhos poderá ter repercussões políticas negativas nos processos de integração regional em curso na América do Sul. O Mercosul, por exemplo, possui uma Tarifa Externa Comum (TEC) que seria bastante prejudicada caso as propostas que estavam em curso nas negociações de Doha fossem aprovadas, tornando ainda mais difícil que nossa região pudesse estabelecer preferências comerciais internas ao bloco.

A estratégia negociadora brasileira também abalou as alianças do Brasil com Índia e China. Refletindo o peso econômico que o agronegócio exportador tem na balança comercial brasileira, o Brasil não deu a devida importância a temas importantes para estes países parceiros e para a agricultura familiar e camponesa. O tema das salvaguardas e outros mecanismos de defesa e promoção da agricultura que garante a segurança e soberania alimentar, no Brasil e no mundo, não foi priorizado pelos negociadores brasileiros, ao passo que se mostrou um tema central para estes parceiros chave do Brasil.

Neste momento, os movimentos sociais do mundo todo estão comemorando. Mais uma vez está provado que o modelo baseado na liberalização progressiva promovido pela OMC caducou. Agora é hora de pensar em alternativas a este sistema de comércio global e este debate deve se orientar pelos processos de integração regional e por novas instâncias globais voltadas para os interesses dos povos. Chegou o momento de construirmos um sistema de comércio verdadeiramente voltado para a justiça econômica, social e ambiental e não para os interesses das corporações
transnacionais.

30 de julho de 2008
* Rede Brasileira Pela Integração dos Povos

27 junho 2008




A revolta dos discriminados no lançamento da Campanha Preconceito Zero

O lançamento da Campanha Nacional da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal - Preconceito, Discriminação Zero - o Alvorecer de uma Nova Consciência, na sexta, 20 passado foi o destampar de denuncias de discriminação e preconceitos que estão atingindo diversos grupos sociais em Porto Alegre. A violência vem especialmente dos setores organizados no estado, utilizados como instrumento para manter uma cultura de dominação através da humilhação e da violência contra estes segmentos. A começar pela própria Câmara Municipal da cidade que aprovou por unanimidade a proibição da prática das religiões de origem africana, disfarçada de norma do Código de Limpeza Urbana.

A norma foi suspensa pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), que acatou Ação de Inconstitucionalidade – ADIN, apresentada por entidades ligadas a religiões afro-brasileiras. Agora, o pleno do Tribunal vai julgar o mérito.

Entidades como a Congregação em Defesa das Religiões Afro-Brasileiras, Comunidade Terreira Ile Axé Yemanjá Omi Olodo e Africanamente Centro de Pesquisa Resgate e Pres de Tradições Afro-descendentes ouviram na hora o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o vereador Guilherme Barbosa, do PT, fazer autocrítica pelo erro. A norma foi proposta por um pastor evangélico e sancionada pelo vice-prefeito, também evangélico.

Vera Soares, falando em nome das entidades religiosas de matriz africana lembrou que, desde 2004, a intolerância está aumentando. Ela lembrou que as religiões africanas ajudam na redução da violência “mas nós não somos vítima apenas da física, há a violência institucional, como a legislação aprovada pela Cãmara.

Ela lembrou que os terreiros, em sua maioria, estão localizados na periferia da cidade. “E ali, não há registro de discriminação racial, social, sexual, dando exemplo de convivência e civilização. Nós somos um povo que deu sua contribuição para a construção da nação. Cortaram nossa língua, cortaram nosso corpo, tiraram nossa liberdade, mas mantivemos nossa religião. E esta casa cometeu este erro, de aprovar por unanimidade esta norma”.



Depoimentos marcaram o lançamento, cheios de disposição de luta contra o preconceito e a discriminação:

Doris Mary Kaniz – da Ilha dos Marinheiros
Representante dos morados das ilhas do Delta do Jacuí, especialmente a Ilha dos Marinheiros, disse que “depois que a Câmara de Vereadores aprovou a proposta para acabar com o uso das carroças em 8 anos, os que vivem do uso da tração animal, a maioria absoluta catadores, se sentem ameaçados.
São cerca de 30 mil famílias que estão vivendo angustiadas, sem saber o que será de seus futuros. “A Câmara votou, só falta o prefeito dar o seu canetaço e jogar o destino destas pessoas no total desespero, insegurança e desamparo”.
Doris denunciou que a cidade é construída sobre quatro rodas. “Falam da situação ruim dos cavalos e esquecem-se das pessoas pobres expondo a discriminação. Essas pessoas não têm postos de saúde que funcionem à noite. Não tem ônibus no final das ilhas. Muitos dos que trabalham e moram ali são doentes e não tem assistência médica. O que salva um aidético não é só o coquetel. O povo da Ilha sobrevive do lixo. Agora dizem que a carroça vai acabar em 8 anos. A discriminação gera violência, tristeza, doença.”
Ela disse ainda que “Os Sesis da vida estão vazios, mas nossos filhos não podem freqüentar porque não tem recursos. Direitos Humanos não são iguais para todos. Há os que têm mais direitos humanos do que outros. O casal homossexual não tem direito de ter filhos.”

Mãe Maria Justina dos Santos – do Centro de Umbanda de Culto Africano Mãe Oxum.
“Tenho casa de religião que atende a comunidade pobre de porto Alegre. Recebo bolsa alimentação, 80 para 120 famílias. Assim, não tem dia que criança não venha bater em minha porta pedir comida. A comunidade necessita de ajuda espiritual e material. Sou filha de oxum, mas não sei o que fazer. Para praticar nossa religião, precisamos de mata, mas não temos mata para entregar oferendas aos nossos orixás. Temos consciência de que não devemos deixar as oferendas espalhadas pela cidade, mas se vamos a alguma mata precisamos ficar cuidando para a polícia não vir nos prender. Precisamos de mata e de mar.”

Jair da Silva, cacique representante da comunidade Kaigang da Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre.
“São 180 irmãos, 40 famílias em 6 hectares. Algumas ainda moram em barracos e como tem feito muito frio e chovido bastante, as crianças são as mais sofridas. Não gostamos de morar em prédio, mas em mato. Mas quando entramos no mato somos perseguidos, pela polícia, e não encontramos os elementos para fazer os nossos artesanatos. Querem reduzir o espaço para vender nosso trabalho na Redenção. Por causa do espaço de um metro e meio quase a Brigada matou um cacique. Fazemos remédios e chás. Mas há intenção de impedir o nosso trabalho. O postinho de saúde está embargado. Ajudamos, curamos durante tantos anos, e não temos liberdade para nossos caraís fazerem nossos remédios.”

Marcele Malta – da Igualdade RS
“Fui a primeira instrutora da Academia de Policia. Hoje vemos que há retrocesso. Quando falam de reeducar e reorganizar os setores de segurança não há preocupação com a capacitação dos que estão envolvidos com esta tarefa, para o respeito a diversidade social e sexual. Registramos o aumento da violência, com agressões e morte de transexuais e travestis. Há o aumento da intolerância com nossa existência, com perseguições inclusive por parte de algumas religiões. Agradeço as religiões de matriz africanas que nos acolhem, sem questionar nossa sexualidade. Podemos nos vestir cantar, dançar e nos aceitar.”
“A maioria das travestir e transexuais são profissionais do sexo porque não tem oportunidade de emprego. Quando buscam um são agredidas por não serem compreendidas em sua cultura, modo de ser, vestir. Os programas de políticas públicas, como os de moradia não nos consideram. Seus formulários fazem perguntas sobre o casal. As travestis e transsexuais não são consideradas famílias “normais”. Assim, oprimidas, só saem de casa à noite, com medo de serem agredidas de dia, e acabam considerando a discriminação uma coisa normal. A nossa luta é também por direitos humanos. Lutamos para que a sociedade nos respeite.

Maria Charrua - Cacica e Xamã
“Eu tive um sonho. Sonhava que o povo Charrua estava no mato. Junto com guaranis e kaigangs. Levantamos às 6 horas para ver os bugios, suas relações famílias fraternas, os adultos carregando seus filhos. Vemos isso nas missões. Mas, depois que ocupamos aquele espaço passamos a ser ameaçados de morte. Tem fazendeiros dizendo que vão nos matar se nós não sairmos de lá. Eles debocham de nossas atividades. Bebem e nos agridem. Riem e nos ameaçam no meio de nossos cantos e danças. Dizem que nossos ornamentos, penas e outros enfeites são coisas de bichos mortos, não respeitando nosso entendimento de que são coisas sagradas. Dizem que vão tocar fogo em nossas casas quanto dormirmos. Não podemos mais descansar.”

(O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de POA se comprometeu a conversar com o INCRA e a policia federal para ver o que fazer.)

Adilson Luis Pimentel, do Conselho Municipal de Direitos da Pessoa com Deficiência – presidente do Conselho dos Direitos da Pessoa com Deficiência
Sugeriu a necessidade dos políticos saírem do assistencialismo e passarem a atuar para garantir os direitos dos que estão foram do atendimento público. “Há o registro publico da falta de equipamentos públicos adequados. Os orelhões são armadilhas, as calçadas são arapucas, os coletivos em Porto Alegre melhoraram, mas ainda está longe do atendimento necessário”.

Deputado federal Adão Preto
“Lutamos pela Reforma Agrária não porque somos agricultores, mas porque a proposta vai melhorar a vida de todos. Os rurais vão poder viver daquilo que sabem fazer, vai manter os agricultores no campo, aumentar a produção agrícola, aumentar a produção de maquinas e implementos, teremos mais emprego no campo e na cidade. Vamos produzir para o meio urbano e rural.
A atual Comissão de Agricultura do Congresso é um antro reacionário. Representam os proprietários de terra, alguns com milhões de hectares. Alguns vão lá se defender da “acusação do movimento dos sem terra”, de que possuem 8 milhões de hectares. Dizem: “Não, nós não temos 8 milhões, temos apenas 6 milhões”. “Consideram isto como direito deles, mas não dos sem terra.” Adão Preto disse que “quando os povos indígenas, camponeses, quilombolas entram no Congresso Nacional, é visível o desconforto da maioria dos deputados que não têm identidade com a cultura da maioria da população do país.”

A deputada federal, Maria do Rosário
Avalia que os educadores não estão recebendo ajuda para se capacitarem para atender as necessidades da formação das crianças da cidade, especialmente para combater os modernos preconceitos: a rejeição das pessoas que moram em lugares considerados violentos, a discriminação daqueles que não sabem utilizar os equipamentos da modernidade.

O presidente da Comissão dos Direitos Humanos do Senado, senador Paulo Paim, disse que o que ocorreu com os três jovens que foram entregues pelo exercito e foram mortos pelo tráfico no morro da Providência, no Rio, é também exemplo da violência e da discriminação racial. Anunciou que a Comissão pretende convocar os ministros do Exercito e da Defesa para que eles expliquem para a sociedade as medidas que estão tomando para coibir estes crimes. Para ele, a violência é a expressão de diversos preconceitos. “As discriminações de classe, gênero, raça, sexo e religião aparecem no cotidiano da vida dos brasileiros, com fatos graves como assassinatos, agressões, desrespeitos noticiados pela imprensa, mas a maioria fica no silêncio.”

25 junho 2008


Promotor nega querer o fim do MST, mas senadores não acreditam
O Procurador-Geral de Justiça, Mauro Henrique Renner, negou que a pretensão do Conselho de promotores do RS queira o fim do MST. Ele disse aos senadores Paulo Paim (RS), e Flávio Arns (PR) (do PT), e José Nery (Psol-PA), integrantes da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, o documento do Conselho, aprovado no final do ano passado, foi retificado em 14 de abril deste ano.

- O MST é legitimo e nós respeitamos os movimentos sociais, mas há situações pontuais que devem ser apuradas. Há nenhuma ação de dissolução do movimento, disse o Procurador Geral.

Mauro Renner diz que o Ministério Publico recebeu muitas denuncias contra o MST e que o objetivo do trabalho que estão fazendo é montar mapa estratégico para o futuro, de até 2022.

As explicações, entretanto não convenceram os senadores. O senador José Nery afirmou, na reunião, que é necessário mais do que verbalização desta posição, pois há um conjunto de documentos, ações e articulações apontando de forma clara para uma situação de ruptura da ordem constitucional no Rio Grande do Sul, visando ser uma política que penalize e impeça os movimentos sociais de reivindicar.

- A ata aprovada pelo Ministério público corrobora a situação. Há uma postura clara. Acusações do MST são caracterizadas como criminosas e assim devem ser tratadas. O que ouvimos nas reuniões com os movimentos sociais, com o comando da Brigada Militar e com o Secretário de Segurança Pública expressa toda uma mobilização jurídica, militar e política visando criminalizar o movimento, disse Nery.

Estado mobilizado contra o MST
O senador do Psol José Nery disse ainda que esta caracterizada “a ação organizada e estruturada no sentido da criminalização do MST. Esta situação não pode ser desmentida apenas de forma verbal. Essa situação tem toda a nossa repulsa”.
Na explanação inicial o senador Paulo Paim afirmou que há registro de desrespeito ao direito de ir e vir, com as decisões tomadas pela Justiça, a partir das ações da Brigada Militar, orientadas pelos procuradores, impedindo os sem terra de ir para determinadas regiões, ou circular em grupo. Há desrespeito ao direito de manifestação, quando são impedidos de marcharem protestando contra a corrupção e reivindicando a reforma agrária.

As diligencias da Comissão de Senadores
A Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal fez diligencia em Porto Alegre para apurar as denuncias de violência e desrespeito aos direitos humanos praticados por instâncias do estado em aliança com governo e ruralistas.
Pela manha ouviram os movimentos sociais que leram e entregaram carta (abaixo) aos senadores, fazendo o levantamento da repressão aos movimentos sociais, especialmente aos do MST.

OAB caracteriza a violência armada pelo estado
O presidente da OAB de Passo Fundo, Leandro Scalabrini apresentou estudo de documentos sobre as decisões tomadas pelos promotores, juízes e Brigada Militar visando atingir o movimento social, particularmente o MST. (doc. mais abaixo).

A multimídia de classe
A comissão teve em seguida reunião com o comando da BM. Esta também preparou a exposição de sua versão dos fatos à Comissão do Senado. Foram convocados promotores, juízes (civil e militar), e ouvidor militar, que acompanharam as ações de repressão ao MST e depuseram favoráveis as ações da Brigada Militar. Estavam presente também as entidades de classe dos brigadianos – Associação dos Cabos e Soldados, e Associação dos Oficiais.
Em seguida foi a vez das explicações da Secretaria de Segurança Publica. E, por fim, o Ministério Público Federal.
Só o Ministério Público não teve tempo suficiente para exibir as explicações devido ao horário de retorno da Comissão à Brasília.
Na audiência da manhã, com os movimentos sociais, em seguida com a Brigada e depois com a Secretaria de Segurança, os senadores foram brindados com exposições de fotos, gravações de áudio e recursos multimídias montadas sobre os mesmos fatos, mas explicados de forma diferente. Mas todas mostram um contingente grande de manifestantes agredidas, feridas, sangrando e humilhadas – homens, mulheres e crianças reivindicando reforma agrária, protestando contra a corrupção e lutando por um Brasil melhor.
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Carta dos Movimentos Sociais do Rio Grande do Sul a Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal e Assembleia Legislativa.

Aqui na presença da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal e da Assembleia Legislativa queremos coletivamente enquanto militantes sociais, homens, mulheres que buscam construir formas de organizar sem terras, sem trabalho, camponeses, operários, servidores públicos e trabalhadores para fazer valer direitos constitucionais registrar e denunciar dois temas: O direito de manifestação e a violência.
Sobre a violência queremos destacar que esta tem sido a forma, a regra principal como a Polícia, aqui no RS conhecida como Brigada Militar, tem tratado as diferentes formas de manifestações sociais organizadas pelos movimentos sociais e sindicatos, tanto no campo como na cidade. Violência que tem se caracterizado pelo cerco fechado aos manifestantes, pela repressão moral e física aos mesmos, pelas abordagens humilhantes, prisões arbitrárias de militantes, pelo indiciamento massivo e por indiciamentos em processos judiciais . Neste rastro de violência, os mortos e feridos estão em maioria absoluta entre a classe trabalhadora:
* Em 30 de setembro de 2005, Jair da Costa é assassinado em uma mobilização dos sapateiros em defesa do emprego, em Sapiranga, no Vale dos Sinos.
* Em 24 de abril de 2007 em Farroupilha, um protesto dos comerciarias contra o trabalho no domingo em frente a matriz das lojas Colombo, houve pancadaria e prisões.
* Em 26 de abril de 2007 em Panambi, paralisação na Tromink, repressão policial, identificação e processo judicial de três dirigentes da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos.
* Em junho de 2007 uma ocupação do plenário da Assembleia Legislativa, por ocasião da venda das ações do BANRISUL, responsabilização judicial de representantes da CUT.
* Em setembro e outubro de 2007 o MST realiza uma marcha a Coqueiros do sul, ao chegar próximo o judiciário decreta o impedimento de entrar na comarca de Carazinho, sendo esta composta de cinco municípios, aqui o direito de ir e vir foi suspenso.

* Em 30 de novembro de 2007 em ocupação do Prédio Vazio da CORLAC em Porto Alegre pelo MTD, condução em fila indiana de 600 pessoas para três delegacias para identificação e processo judicial.
* Em janeiro deste ano o MST realiza um encontro estadual com 1.100 pessoas em um dos seus assentamentos em Sarandi e a BM monta um aparato com 600 soldados para revistar todos em busca de um anel, 200,00 reais e uma máquina fotográfica.
* Em fevereiro de 2008 o ELAOPA, encontro latino americano de organizações populares fez manifestações em Porto Alegre, usando o teatro como ferramenta de comunicação, foi reprimido e dispersado.
* Em 08 de março de 2008 repressão violenta com prisões das mulheres da Via Campesina em função de protesto contra a invasão das faixas de fronteiras por empresas multinacionais.
* Em 14 de março de 2008 uma atividade de protesto na SEC por parte dos professores ligados ao CPERS denunciando a enturmação e o fechamento de mais de 100 escolas, foram reprimidos e lideranças presas.
* Em maio de 2008, em São Gabriel um forte aparato revista os acampados, separando as crianças das mães por horas, impedindo a presença de deputados para acompanhar as arbitrariedades da tal revista.
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* Em 20 de maio de 2008 em Porto Alegre, o Levante da Juventude fez um manifestação em frente a SEC, denunciando a precariedade do ensino público estadual e o fechamento de escolas e estes também foram reprimidos sendo dois militantes presos.
* Em 11 de junho de 2008, repressão violenta com mais de uma dezena de feridos e mais de uma dezena de prisões em função de um protesto no pátio do mercado nacional em Porto Alegre com movimentos do campo e da cidade. O protesto era contra o alto preço dos alimentos e o monocultivo de eucaliptos.
O direito de manifestação esta garantido no artigo V da Constituição Federal. Em todos os tempos as sociedades de classes foram e são marcadas por profundas contradições. Os conflitos de posição, de ideias, opiniões a cerca de como se da a organização das sociedades é algo que ainda que alguns queiram, jamais será abolida.
Na história do Brasil, marcada por quatro séculos de escravidão, ainda que sob a chibata, os escravos se rebelaram, fugiram, eram perseguidos e todas as suas formas de resistência e organização foram perseguidas, demonizadas, cooptadas ou então esmagadas. Ainda assim depois de tantos conflitos as elites ficaram ao longo de 40 anos produzindo leis que em doses homeopáticas iam libertando os escravos. Até que enfim veio a Lei Áurea que aboliu, mas não resolveu. Milhares de homens e mulheres agora livres e igualmente miseráveis, sem um tostão de indenização, sem um pedaço de chão.
A história andou, andou o processo civilizatório que também é contraditório e outra vez a força, a violência e a tortura fizeram outra geração ter que fugir, se esconder ou então matar ou morrer para que seus filhos pudessem ter o direito às palavras, as ruas, a empunhar bandeiras a explicitar as feridas da contraditória sociedade de classes. Era o tempo da ditadura militar.
Outra vez as elites colonizadas deste país decretam que este período foi necessário, mas acabou e ficamos assim, seguimos na construção de um país finalmente democrático, acordamos que todos podem existir e que os que detêm o poder não perseguirão, não sufocarão, não criminalizarão os contrários.
Assim passamos os últimos vinte anos, a maioria produzindo riquezas e obedecendo as regras acordadas em 1988 e a minoria, todos os dias, discretamente desmanchando as regras de 88. Por quê?
Nas últimas décadas o capitalismo tem tido novas necessidades, é planetário e finalmente o reino das mercadorias foi instaurado. No trono esta o lucro e a
*
propriedade privada. A humanidade junto com toda a biodiversidade do planeta deve postar-se de joelhos diante destes e tudo o que estiver fora desta posição é atrasado, retrogrado, ilegal, criminoso, terrorista, bandido.
besse modo no mundo todo e aqui não é diferente, para todos aqueles que levantarem a voz para dizer que esta proposta de mundo esta nos arrastando para a coisificação, a desumanização, a barbárie social e ambiental passam a estar condenados, passam a cadeira dos réus por crime contra o direito inquestionável da reprodução do capital a qualquer custo.
O lucro das papeleiras suecas, norueguesas, norte americanas, das grandes empresas esta acima de qualquer coisa. A produção de papel para a exportação, no ES, na BA, no RS esta acima da vida de milhares de pessoas, expulsas de suas terras. A terra esturricada de sede, infestada de formigas, árida, não abala, não toca, não af eta a classe dominante desta velha colónia.
Passados mais de 500 anos seguiram enviando para as metrópoles as mesmas riquezas, à custa de nossa imensa pobreza, controlada por uma profunda violência.

A violência faz parte da sociedade de classes, para manter muitos trabalhando e produzindo riqueza para poucos, só com muita violência, primeiro o chicote, depois cartão ponto, fiscal, gerente e finalmente se estes mecanismos não derem conta, a polícia com bala e pau coloca tudo no seu devido lugar.
A questão é porque nos últimos dois três anos a violência tem sido maior sobre os movimentos sociais? Que motivações produziram esse grau de repressão, perseguição, criminalização?
Se o sistema capitalista precisa garantir altas taxas de lucros,, precisa para isso, realizar altos investimentos para por sua vez garantir a reprodução de mais e maiores lucros e assim seguir seu metabolismo.
Para que isso aconteça, todos os empecilhos no meio desse caminho devem ser removidos, as leis da Constituição de 88 são suprimidas, transformadas. O caminho para chegar ao paraíso das matérias primas como: ferro, ouro, bauxita, alumínio, manganês, terra, água, sol é aplainado e o que esta pela frente deve ser removido. Também perturba o sistema o serviço público, sempre pesado, sempre caro, ineficaz, preguiçoso e quando não corrupto, portanto pode ser dispensável.
Desse modo cria-se toda uma pauta produzida pelo sistema capitalista e sua rainha a propriedade privada e tudo passa a valer, inclusive abolir o Estado [Democrático de Direito como, por exemplo, aplicar despejos ilegais em Coqueiros do Sul, com base em processos não transitados e não julgados. Desse modo até as leis que dizem ser sagradas, não são cumpridas por quem as usa para justificar sua própria truculência.
E o Estado? E o Judiciário? E o Ministério Público? Grupos desses setores ligados ideologicamente com a extrema direita, preconceituosa como a FARSUL, por exemplo, e pertencentes ao mesmo grupo instalado no poder dirigido por Veda, justificam, aplaudem e criam mecanismos para legitimar o atual pensamento único que vigora nesse país e no mundo. Desse modo Polícia técnica, apolítica, não existe, nunca existiu e não existirá. Todos esses aparatos explicitam que é para manter a propriedade privada, o lucro e sua ideologia.
E quem defende a vida humana e a biodiversidade, tem seus ossos quebrados, é humilhado, preso, criminalizado. Quem é o violento nessa conjuntura? Quem esta praticando a violência? Para onde vamos com essa proposta de mundo onde nos tornamos coisa, mercadoria em nome de garantir os lucros de meia dúzia? Depois de nos quebrarem, nos prenderem, nos humilharem moralmente, o que mais farão conosco?

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Documento do presidente da OAB de Passo Fundo, apresentado na diligência da Comissão de Direitos Humanos do Senado, realizada na Assembléia Legislativa do RS.
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Excelentíssimo Senhor Senador ...
Senhores e senhoras presentes nesta audiência pública
Sou advogado, presidente da comissão de direitos humanos da OAB de Passo Fundo, defensor dois oito supostos líderes do MST acusados da prática de crimes contra a segurança nacional, e não poderia me omitir, diante do maior esquema repressivo, da maior conspiração CIVIL-MILITAR realizada para aniquilar um movimento social desde o final da ditadura militar brasileira.
Conspiração que inicia com o coronel da Brigada Militar Waldir João Reis Cerutti, então comandante do CRPO Planalto, dois meses antes deste se licenciar para concorrer a deputado estadual pelo Partido Progressista – PP – em maio de 2006, quando formulou o dossiê intitulado ¨Situação do MST na região norte do RS¨. Este dossiê é uma sistematização de uma investigação por ele comandada e que teve por investigados o INCRA, a CONAB, o MST, MAB, MPA e a Via Campesina.
As conclusões da investigação são de que existe vinculação do governo federal ao MST; do MST com o PCC; e do MST com as Farc. O relatório informa que os acampados são massa de manobra de líderes da via campesina e que haveria a presença de estrangeiros junto aos acampados para dar treinamento militar em guerrilha rural, com o objeto de criar uma Zona de domínio, de controle através do domínio territorial, onde o MST substituiria o Estado (tal como ocorre com o tráfico nas favelas do rio de janeiro). A zona de controle territorial branco compreenderia a área abrangida pela Fazenda Anoni e Fazenda Guerra (16000 hectares), face a sua localização estratégica (acesso a todo estado, argentina, etc...) e por ser uma das mais ricas e produtivas regiões do estado. O documento propõe à justiça as seguintes medidas:
- reconhecimento de que as lideranças promovem ações criminosas;
- fixação de prazo para desativação dos 4 acampamentos existentes na região (Nonoai, Sarandi e Coqueiros);
- intervir nas propriedades arrendadas, onde existem acampamentos do MST;
- concessão de interdito proibitório de instalação de qualquer novo acampamento na comarca de carazinho num raio de 50 km da fazenda coqueiros.
Este documento foi entregue em “caráter confidencial” aos juízes e juízas que concederam ordens de busca e apreensão, interdito proibitório, ordens de prisão e reintegração de posse contra integrantes do MST na comarca de Carazinho, que o remeteram a Superintendência de Polícia Federal e a Promotoria de Justiça Especializada Criminal do MPE.
As teses e informações constantes do documento foram utilizadas em 1º de junho de 2006, pelo proprietário da Fazenda, integrante da FARSUL, para formular representação contra o MST junto ao MPE.
O coronel comandou a operação de despejo da fazenda guerra em 2006, onde a atuação da Brigada Militar assumiu todos os contornos de tortura em caráter coletivo, tendo atingido também crianças e adolescentes de forma generalizada, segundo as conclusões do relatório do caso 01-2006 do Comitê Estadual contra a Tortura, composto pela .
O Coronel Ceruti, quando de sua aposentadoria em 2007, em entrevista ao jornal Periódico Central de Passo Fundo, informou que durante a ditadura militar brasileira, esteve infiltrado no Acampamento da Encruzilhada Natalino, durante dois anos, usava o nome de Toninho, e sua missão era convencer acampados a aceitar as terras oferecidas pelo governo em Lucas do Rio Verde no MT e abandonar o acampamento, e ainda repassar informações aos exército, operando um rádio amador que possuía instalado num local da região.
Este dossiê resultou em três ações articuladas contra o MST:
- pelo Estado Maior da Brigada Militar,
- pelo Conselho Superior do Ministério Público do RS;
- pelo Ministério Público Federal de Carazinho.

O Estado Maior da Brigada Militar do RS, a pedido do então Subcomandante Geral da BM Cel. QOEM – Paulo Roberto Mendes Rodrigues, atual comandante geral da corporação, determinou a realização de investigações sobre as ações desenvolvidas pelo MST e aliados, em relação as ações praticadas contra a Fazenda Guerra (Coqueiros do Sul), Fazenda Palma (Pedro Osório), Fazenda Nene (Nova Santa Rita) e Fazenda Southal (São Gabriel).
No dia 20 de setembro de 2007 o relatório n. 1124-100-PM2-2007 foi encaminhado ao comandante geral da BM, onde emite parecer sugerindo sejam tomadas todas as medidas possíveis para impedir que as três colunas do MST que rumavam ao Município de Coqueiros do Sul, fossem impedidas de se encontrar. No relatório houve uma investigação secreta sobre o MST, seus líderes, número de integrantes e atuação no RS.
O relatório da força militar do RS caracteriza o MST e a Via Campesina como movimentos que deixaram de realizar atos típicos de reivindicação social mas sim atos típicos e orquestrados de ações criminosas, taticamente organizadas como se fossem operações paramilitares. Na conclusão do relatório é condenada a “corrente que defende a idéia de que as ações praticadas pelos movimentos sociais não deveriam ser consideradas crimes, mas sim uma forma legítima de manifestação”. As investigações também foram dirigidas sobre a atuação de deputados estaduais, prefeitos, cidadãos que cederam ou arrendaram áreas para os acampados, integrantes do INCRA e supostos estrangeiros.
O comandante Mendes sugeriu a remessa do relatório ao Ministério Público do Estado do RS e ao Ministério Público Federal.
Provavelmente, este documento foi repassado a juíza que apreciou o pedido de interdito proibitório da comarca de carazinho em 2007. Naquele processo está certificado nos autos que o MPE repassou documento de caráter sigiloso à magistrada, que teve vistas do mesmo e o devolveu ao MP. Os advogados solicitaram acesso e vistas dos documentos e não obtiveram.
Em função desta ação da Brigada Militar, o MPE ingressou com ACP impedindo as colunas do MST de entrarem nos quatro municípios da comarca de carazinho no RS, e foram ingressadas com várias ações para impedir que as crianças que acompanhavam suas famílias permanecessem nas marchas.
Desde a formulação destes relatórios, perceberam-se mudanças nas ações da polícia civil e brigada militar, em relação a protestos realizados por professores, pequenos agricultores, sindicalistas, trabalhadores, acusados de delitos, pessoas pobres e principalmente contra os integrantes da via campesina.
A partir destes documentos a Brigada Militar passou a adotar aquilo que o Centro de contatos de movimentos sociais da fração Die Linke no Parlamento Alemão, chama de ¨práticas rígidas em reuniões¨.
Esta menção é importante porque o que vem acontecendo nos últimos dois anos do RS, aconteceu na Alemanha (ocidental) nos anos 80 e (unificada) nos anos 90, quando a polícia alemã adotou a chamada “Estratégia preventiva da polícia” em relação aos movimentos sociais.
Esta estratégia contempla dois níveis de repressão:
Nível inicial:
1 – amplo registro de dados (com a identificação massiva de participantes de protestos, grampos telefônicos e de email, uso de GPS, busca e apreensão de documentos de manifestantes e em sedes de entidades);
2 – práticas rígidas da polícia em reuniões (uso de gás, balas de borracha, tropas de choque, prisão de manifestantes, táticas anti-motim);
Num segundo nível, dirigido contra as organizações que não foram dizimadas com as práticas anteriores, a estratégia envolveu:
– proibição de existência legal de associações;
– mudanças na legislação penal.
A execução desta estratégia, na Alemanha, ocorreu por uma unidade especial ou uma espécie de autoridade especial, chamada KAVALA, criada na polícia, na qual todas as autoridades governamentais (em um intercambio intensivo) cooperam e que recebem tarefas da polícia. A KAVALA se transformou numa autoridade superior com atuação autônoma, na qual a separação entre a polícia civil e a militar, entre as unidades federais e estaduais e entre o serviço secreto e a polícia desapareceu. Todas as exigências de separação e principio de separação de poderes que segundo a constituição alemã serviriam para evitar medidas excessivas do executivo ou da polícia, foram desrespeitadas. Estes princípios haviam sido inseridos na constituição alemã devido às experiências do fascismo, justamente para evitar a formação de um aparato policial descontrolado. A kavala assumiu a liderança, não só no planejamento, mas também nas medidas operacionais. Assim ela se tornou destinatário do reconhecimento ou não do direito de manifestação, agindo sempre conforme sua previsão própria do risco de conflitos. Quem quisesse permanecer nas áreas definidas como de risco de conflitos, interferia na concepção de segurança da polícia, tornando-se criminoso ou terrorista em potencial. A kavala não só suspendeu a separação entre polícia e jurisdição, mas também passou a descrever em seus “relatórios de situação” a verdade para juízes e juíza – com todas as conseqüências que isso acarreta para a liberdade de reunião, a proteção legal de medidas da polícia e a ações do processo penal. Outra novidade foi o fato da Kavala preparar e publicar autonomamente comunicados de imprensa ofensivas, caracterizados por mensagens incorretas e previsões de risco enganosas, dirigidas á mídia e a opinião publica. Disso resultou a criação de “zonas especiais” onde estão suspensos o direito de reunião e manifestação e na identificação de centenas de líderes e mais de 1000 pessoas em processos judiciais.
No RS, nos últimos dois anos, ocorreu a KAVALIZAÇÃO da Brigada Militar. A execução desta estratégia, ocorreu inicialmente pelo BOE – Batalhão de Operações Especiais e agora, diretamente pelo comandante geral da Brigada. Ocorre um intercâmbio intensivo, entre MPE, Brigada, MPF, PF e Poder Judiciário, que cooperam e que recebem tarefas da BM. O BOE se transformou numa autoridade superior com atuação autônoma, na qual a separação entre a polícia civil e a militar, entre as unidades federais e estaduais e entre o serviço secreto e a polícia desapareceu. Exemplo disso foi o despejo dos dois acampamentos do MST em áreas arrendadas, próximas a fazenda coqueiros na semana passada, onde promotor, juiz, procuradora federal, auditoria militar e comando militar, polícia civil estavam presentes. Todavia, o direito dos acampados de terem um advogado não foi garantido. É prática do BOE, congelar a área, impedindo os advogados dos acampados acompanhar as operações. Todas as exigências de separação de poderes que segundo a constituição brasileira serviriam para evitar medidas excessivas do executivo ou da polícia, estão sendo desrespeitadas. A constituição federal de 1988 proíbe as policias militares de atuarem na investigação de infrações penais e de movimentos sociais ou partidos políticos. O art. 144 da constituição federal estabelece que às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública. A brigada militar invadiu a competência da policial civil e da polícia federal. Estes princípios haviam sido inseridos na constituição devido às experiências da ditadura militar brasileira, justamente para evitar a formação de um aparato policial descontrolado. O BOE-EMBM assumiu a liderança, não só no planejamento, mas também nas medidas operacionais. Assim ela se tornou destinatário do reconhecimento ou não do direito de manifestação, agindo sempre conforme sua previsão própria do risco de conflitos. Quem quisesse permanecer nas áreas definidas como de risco de conflitos, interferia na concepção de segurança da polícia, tornando-se criminoso ou terrorista em potencial. Isto foi visto claramente quando os manifestantes foram impedidos de chegar ao palácio Piratini, e com as marchas do MST que foram impedidas de chegar a Carazinho. A Brigada não só suspendeu a separação entre polícia e jurisdição, mas também passou a descrever em seus “relatórios de situação” a verdade para juízes e promotores – com todas as conseqüências que isso acarreta para a liberdade de reunião, a proteção legal de medidas da polícia e a ações do processo penal. A brigada também prepara e publicar autonomamente comunicados de imprensa ofensivas, caracterizados por mensagens incorretas e previsões de risco enganosas, dirigidas á mídia e a opinião publica. Disso resulta a criação de “zonas especiais” onde estão suspensos o direito de reunião e manifestação, e no RS, hoje existem quatro zonas especiais, ao redor das fazendas Southal, Palma, Nene e Guerra, criadas por decisão judicial em ACP proposta pelo MPE, onde num raio de dois quilômetros destas fazendas, está proibido o direito de reunião e manifestação do MST. No ano passado toda a comarca de Carazinho era uma zona especial por determinação da justiça. Deste processo todo está decorrendo na identificação de milhares de pessoas em manifestações, para que posteriormente respondam processos judiciais. Nos últimos anos tem ocorrido o cumprimento de mandados de busca e apreensão na sede do Movimento de Mulheres Camponesas, durante o Encontro Estadual do MST na COANOL – onde o congresso foi desbarato; e nos acampamentos do MST na Southal e em Coqueiros do Sul. Também ocorreu a decretação da prisão de dois supostos líderes, que foi revogada pelo STF. Ocorreram também apreensões ilegais de agendas e documentos dos acampados, que são utilizados nos informes secretos. Existem fortes indícios de grampos telefônicos ilegais e monitoramento de pessoas. A brigada continua infiltrando agentes nos acampamentos que são expulsos quando descobertos e aí dão declarações fantasiosas sobre o movimento. Os que não são descobertos apresentam-se nos batalhões da brigada e prestam depoimentos contra o movimento. Existem pelo menos dois casos documentados desta situação embora não se possa provar que recebem dinheiro da força militar do RS.
Mas isto não é tudo e não é pior. Como a repressão policial com uso de força não conseguiu extinguir o movimento e os acampados, o processo de kavalização foi para seu segundo estágio que é a tentativa de decretar-se a proibição legal e da dissolução do MST.
Depois de seis meses de investigações levadas a cabo por dois promotores de justiça, no dia 3/12/07 o Conselho Superior do Ministério Público do RS aprovou POR UNANIMIDADE o voto-relatório elaborado pelo procurador de justiça Gilberto Thums, nos autos do processo nº 16315-09-00/07-9, onde foram aprovadas quatro constatações e uma série de encaminhamentos contra o MST:

“A primeira constatação é inarredável. É preciso desmascarar o MST como movimento que luta pela reforma agrária. A forma como agem os integranes do MST é clara no sentido de tratar-se de uma organização criminosa, à semelhança de outras que existem no mundo, e que objetiva conquistas territoriais para a instalação de um “Estado-paralelo”, com nítida inspiração leninista, e não um movimento que luta pela terá em prol de seus filiados. O MST hoje é uma organização criminosa que utiliza táticas de “guerrilha rural” para tomada de território estrategicamente escolhidos por seus líderes.” – fls. 96
“...conflitos agrários que se avizinham face da complacência do poder público, notadamente dos governos de esquerda, com a questão agrária e o tratamento dispensado aos sedizentes “sem-terra”. No caso, o governo federal tem-se mostrado completamente omisso para solucionar o problema, limitando-se a fornecer cestas básicas, lonas para as barracas, chachaça, treinamento em escolas para conhecer a cartilha de Lenin, etc., menos a identificação de terrfas não produtivas e que poderiam ser destinadas para a reforma agrária.
Uma pergunta que não quer calar: porque se invade uma fazenda-empresa, que é altamente produtiva? O que representaria para a economia do país destruir fazendas produtivas e entregá-las a vagabundos que jamais trabalham em terras e sequer conhecem manejo de plantações?
O quadro que se vislumbra numa invasão a uma fazenda é de causa escarnecimento a qualquer pessoa que não tem a mínima noção de produção de alimentos. O que invasores movidos a cachaça, utilizados como massa de manobra do MST vão fazer numa fazenda mecanizada que é produtiva (tem reserva natural, rio, usina de energia, imensa área de cultivo e se situa numa posição geograficamente estratégica)?
O MST é uma organização estruturada e despersonalizada juridicamente, tal qual as FARCS colombianas, pois assim não pode ser responsabilizado pelos seus atos contra bens jurídicos individuais ou coletivos. Todavia, recebe auxílios financeiros do poder público e de entidades estrangeiras, tudo de forma mascarada, utilizando-se de instituições aparentemente legais.” Fls. 98-99
“Porem o que mais preocupa é a ideologia que atualmente move o MST, caracterizando-se como movimento revolucionário, com objetivo de tomada de poder, iniciando-se pelo espaço territorial.” Fls. 100
“O MST não está em busca de terras para assentar “colonos”, mas quer conquistar territórios pagos com o dinheiro do povo brasileiro. Estes territórios pasarão a ser controlados pelos seus líderes e servirão para instalar um estado-paralelo, porque se trata de áreas estrategicamente localizadas em espaço estratégico, servido por usinas de energia, acesso por rodovias, e controle absoluto do território.” – fls. 106
“É preciso adotar medidas para neutralizar o MST no RS, desconstituindo-o como um “movimento legítimo de reivindicação”. A medida é a mesa adotada para a torcida organizada Mancha Verde em São Paulo, que trazia violência aos campos de futebol. Pois bem, chegou a hora do BASTA.” Fls. 107
“As ações predatórias do MST ... estão a exigir uma imediata e vigorosa ação representada por um conjunto de providencias que levem à neutralizaçao de suas atividades e declaração de ilegalidade do movimento.
...Assim, tirando-se o véu ou a carapaça de proteção do MST, tem-se um grupo de pessoas mal intencionadas, que dirigem um organismo, recrutam ou aliciam pessoas com promessas de acesso a terra... É uma afronta à Democracia.
Neutralizando o MST e declarando-se ilegal a sua existência, quebra-se o vinculo com a Via Campesina e sua legitimidade de negociação com o poder público”. Fls. 108-109
Cabe ao MP agir AGORA. “Quebrar a espinha dorsal do MST.” O momento é histórico no país e se constitui no maior desafio já apresentado à Instituição pós 1988: A DEFESA DA DEMOCRACIA. Não importa o desgaste eventual das medidas aos simpatizantes do movimento. O MP não é uma instituição governamental, porque se fosse, ficaria assistindo passivamente ao avanço do movimento cujo objetivo é a subversão da democracia, eis que se trata de organização paramilitar...
Essa é a primeira constatação e as necessárias providencias. Assim, voto no sentido de designar uma equipe de Promotores de Justiça para promover ação civil pública com vistas à dissolução do MST e a declaração de sua ilegalidade. Não havendo necessidade de maior investigação sobre o que já foi apurado...” fls. 110



A segunda constatação reside nos campos de treinamento de seus integrantes para formar uma legião de seguidores e aliciadores do movimento. Existem no Estado três locais onde estariam sendo ministradas lições de guerrilha rural pelos técnicos das FARCS aos membros do MST. Esta informação vem da brigada militar. Um deles chamado Centrão, em Palmeira das Missões, outro CETAP em Pontão e o terceiro em Veranópolis. – fls. 111

“A terceira constatação consiste na desativação e remoção dos acampamentos situados nas regioes de conflitos permanentes, onde o MST escolheu determinado território para ocupação”. Fls. 116

“A quarta constatação consiste na necessidade de intervenção do MP nas relações entre INCRA-RS e a organização dos acamapados, com o fim de promover um recadastramento com identificação de todos os que já receberam lotes do governo e se ainda continuam na terra, bem como os que ainda pretendem permanecer acampados, aguardando o seu assentamento, identificando quem realmente tem origem rural e quem é recrutado como desempregado urbano, apenas para engrossar as fileiras do MST. Quais os assentamentos que são produtivos, o que produzem, e como funcionam esses assentamentos.” – fls. 119



A quinta constatação diz respeito à intensa migração de sem-terras entre acampamentos, o que poderá provocar, em tese, desequilíbrios de eleitores locais. – fls. 119

Vários encaminhamentos destes já foram concretizados:
- várias ACP para retirar as crianças da companhia de pai e mãe que estiverem participando de marchas;
- ACP que transformou a comarca de Carazinho numa zona especial, impedindo a realização de protestos pelo MST;
- ACP que despejou dois acampamentos de duas áreas arrendadas e proibiu os proprietários de arrendar, sob pena de multa de R$10 mil diários;
- 03 ACP que criaram zonas especiais ao redor das fazendas Palma, Nene e Southal.
Os próximo passos são a dissolução do Instituto Educar de Pontão e do Iterra em Veranópolis. E o passo maior: a dissolução do MST. Estas ações já devem estar sendo elaboradas, e nos próximos dias assistiremos a sua proposição.
A decisão do Ministério Público ofende o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, especialmente o artigo 22, nº 1. Este pacto foi reconhecido pelo Governo brasileiro através do Decreto nº 592, de 6 de julho de 1992.
A decisão também ofende a Constituição Federal. O artigo 5º, inciso XVII, diz que “é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar.”

Paralelamente a deliberação do CSMP-RS, o MPF de Carazinho, acatando a tese do Coronel Cerutti, no dia 11 de março de 2008, denunciou oito supostos integrantes do MST por “integrarem agrupamentos que tinham por objetivo a mudança do Estado de Direito, a ordem vigente no Brasil, praticarem crimes por inconformismo político, delitos capitulados na Lei de Segurança Nacional da finada ditadura brasileira, referindo na sua denúncia que os acampamentos do MST constituem “Estado paralelo” e que os atos contra a segurança nacional estariam sendo apoiados por organizações estrangeiras como a Via Campesina, as FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, além de estrangeiros que seriam responsáveis pelo treinamento militar.
Cabe destacar que a pedido da procuradora, a Polícia Federal investigou o MST durante todo o ano de 2007, e concluiu inexistirem vínculos do movimento com as FARC, presença de estrangeiros realizando treinamento de guerrilha nos acampamentos e inexistir a pratica de crimes contra a segurança nacional.
Mesmo assim, a ação, que busca o reconhecimento de que os acusados são terroristas, é condição e pré-requisito para a dissolução do movimento, foi proposta. Inclusive, nesta data, está ocorrendo o interrogatório dos acusados.

Todos estes documentos que nos referimos, estão sendo entregues neste momento aos senadores e ministro, foram repassados pela Procuradora Federal Patrícia Muxfeldt que está utilizando os mesmos como prova contra os oito acusados de praticarem crimes contra a segurança nacional, processo que tramita em sigilo na justiça federal de Carazinho. Não fosse isso jamais teríamos acesso aos mesmos, pois possuem o caráter de RESERVADO na Brigada Militar, e de CONFIDENCIAL no Ministério Público Estadual (documentos confidenciais para o MPE só são divulgados depois de 10 anos de sua elaboração). Meus clientes autorizaram e determinaram a divulgação destas informações, principalmente depois que o próprio ministério público estadual divulgou parte delas na imprensa na semana passada.