12 dezembro 2008

Abaixo a ditadura!

A rainha de azul do Amargo Santo da Purificação Contra a Ditadura Militar e o AI-5

A rainha de azul caiu enquanto esperávamos para iniciar as atividades. A bela rainha de azul caiu de cima de suas pernas de pau. Belas pernas de pau!

Corremos para acudi-la. Mexe aqui e ali. Ela estava bem, e considerou desnecessário maiores cuidados, e com razão, pois a rainha era bela, altiva, forte e corajosa. E seguimos no ato.

Dizer que o tempo não estava bom, não é inteligente. O tempo não está nem ai para ser qualificado desta forma. Assuma a responsabilidade a espécie quem tem contribuído para se desnortear, responsabilizando depois o tempo de estar desnorteado.

O tempo do ato iniciou com sol, depois fechou. Em seguida chuviscou. Parou, abriu o sol. Fechou, choveu forte. Parou, choveu forte. Parou, choveu forte. O publico sob chuva, sombra, sol, garoa, na calçada, sobre as arvores, mais uma vez.

Aquele público é o publico da peça. Os que se foram eram os que estavam trabalhando, em horário de almoço, com pouco tempo, tendo que ir embora, que o patrão não iria gostar, arriscando o emprego, ainda mais num tempo de mais uma idiotice da espécie do sistema, mas/e , olhando o relógio, ficou mais um pouquinho. Mas não reduziu, ao contrário, a quantidade foi aumentando, aos poucos, com os que tinham tempo para ver toda a peça ou apenas uma parte e os iam aderindo e ficando de vez, depois se justifica pelo atraso de alguma coisa.
No final da apresentação da peça, os rostos molhados, de águas de lágrimas e chuva que, em nenhum momento dispersou o público, e iniciou marcha emocionada pela memória dos que lutaram e morreram pelo fim da Ditadura Militar e a redemocratização do país.

A apresentação foi magistral.

Vejo pela terceira vez. Esta mais madura. O pessoal está mais relaxado. Aperfeiçoaram partes que estão mais definidas e eficazes em suas mensagens.
É para ser executada em dia de sol. Ou, pelo menos, que não chova. Os atuadores precisam da luz, do ar, do chão e do espaço das ruas. A peça é espetáculo de rua que rememora a vida do comunista Carlos Marighella. Precisam destes elementos em seu espírito e corpo para ganhar vida.

No espírito da data e repetindo a coragem de vida do sujeito da peça, Carlos Marighella, a apresentação decolou no chão molhado, num publico encharcado, que foi ficando, ansioso pela água que atrapalhava os olhos de ver aquilo seria aquilo mesmo?

E como não poderia deixar de ser, pela terceira vez, quando terminou, tinha um monte, uns pela primeira, outros pela segunda, e outros ainda pela terceira vez, chorando.
Como aquela era apenas uma parte da atividade, a Tânia, explicou que seguiríamos dali em marcha para a Esquina Democrática para dar continuidade ao ato pela abertura dos arquivos e punição dos crimes de tortura. Ate a Esquina Democrática a marcha engordou.
Uma garota, que não quis dizer o nome, com uniforme de uma farmácia, perguntou o que era aquilo? Não entendeu. O quê? Quando foram estas torturas, quem foi morto? Mas foi aqui no estado? Este ano?

O todo foi um ato da “Memória que não esquece Isto ainda acontece”. A presença do exercito nas ruas, a censura aos meios de comunicação, a prisão, o exílio, o banimento, a morte, a tortura eram métodos de poder político militar. E até hoje o povo não sabe disto.

A garota ficou incrédula, como isto acontece?

Bater, prender, torturar.

O sistema ainda reage assim contra os que lutam contra ele. E, como nossa memória não esquece diversos grupos se encontraram na Esquina Democrática, Porto Alegre, para protestar contra o governo federal, estadual e municipal. E os que lá estavam eram os anarquistas, os socialistas, os comunistas, uns pouquíssimos ex-presos e exilados pela Ditadura Militar. O objetivo é denunciar que – 40 anos depois do AI 5 - a violência que o regime militar utilizou para se manter como poder, continua sendo praticada cotidianamente contra trabalhadores, estudantes, sem terra, nas ruas, delegacias e presídios. A violência se espalhou contra a população que vive acuada.

O ato que iniciou com o Amargo Santo da Purificação, da tribo de atuadores Oi Nós Aqui Traveiz, terminou com os que lutam junto, mesmo que só se encontrem em tempos de dificuldades.

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