17 fevereiro 2008

Um ano de Yeda


Um processo de mudança social em curso

O governo do estado apresenta o resultado econômico de sua ação política. Economizou R$ 954,3 milhões em 2007, o maior dos últimos 37 anos. É o dobro da economia que precisava fazer para pagar os juros da dívida. Na articulação política para aprofundar este resultado, foi derrotado. Yeda chegou a apresentar um pacote que ia do aumento de impostos a cortes de gastos, mas foi mal compreendida por sua base de sustentação e ainda teve o vice-governador como adversário.

O governo Yeda não soube enfrentar seu desejo de aumentar impostos. Não conseguiu se entender nem com sua base de sustentação e aliados de governo (DEMOs, PP, parte do PMDB e o vice - apresentado como lider da luta contra o aumento de impostos), que se aliaram à oposição - PT, PCdoB). Foi um desastre político perder a votação, num plenário com maioria absoluta de parlamentares governista, por 34 a Zero.
O governo ainda se desgastou brigando publicamente com a cúpula do judiciário estadual. Queria cortar no orçamento parte do que os juízes entendem como recomposição de suas perdas. E o vice se fortaleceu fortaleceu "por sua trajetória coerente" com o neoliberalismo.
A política para a educação levou os pais à exasperação. Juntou turmas de séries diferentes (a enturmação), fechou escola que considerou com poucos alunos, juntando-as com outras – não importando muito a distância entre os prédios -. Não dialogou com o funcionalismo público (avisado de que não terá reajuste salarial enquanto a situação for de déficit nas contas do governo), e desenvolveu uma política de segurança em conflito com a tropa e seu comando.
Quando fez 100 dias de governo, Yeda demitiu o secretário que aparecia na imprensa mais do que ela, e era visto como o xerife do pedaço, e rompeu com o PDT. Os policiais civis e militares fizeram manifestações publicas denunciando as péssimas condições de trabalho e salário. Como os profissionais da educação da rede estadual, os policiais civis também estão em estado de greve. Março aguarda.

O resultado deste superávit nas contas do governo tem dois lados.
Um: o novo jeito de governar do governo é o velho jeito de cortar nos serviços públicos, atingindo a população mais pobre na qualidade da saúde, da segurança, do transporte, no serviço de água, tratamento do lixo.

E outro, porque seguir rigidamente as recomendações da cartilha neoliberal: o principal foi economizar para acertar as contas, fazer “o dever de casa”, seguir as leis do mercado, não gastar mais do que recebe, etc. E poupar para, primeiro, continuar pagando a dívida, depois, atender as necessidades de infra-estrutura para os projetos econômicos dos grandes grupos – estrada, mas estrada para escoar a produção. Energia elétrica, mas para produzir nas condições absurdas existentes nas propostas dos grandes grupos empresariais. Educação mas para formar, verter e converter mão de obra para as novas plantas de produção. Muita mecanização, poucos postos de trabalho.

Aos poucos a elite financeira local definiu os projetos que pretendem desenvolver e de qual infra-estrutura estão falando. O setor das licenças ambientais mudou mas precisa mudar mais para atender aos investimentos internacionais de plantar eucaliptos na região da fronteira com o Uruguai, sinergizando (peço desculpas pelo neologismo) o projeto já implantado naquele país causando conflitos com as populações argentinas, do outro lado da fronteira. Possibilitando as ampliações das plantas metalúrgicas e automotivas já instaladas e as que se colocam como possíveis de vir. É algo assim, elas anunciam possibilidades, setores locais correm atrás para cortejar com ofertas de facilidades: cortes de impostos por períodos cada vez maiores, mão de obra barata, condições ambientais fantásticas.

O desgaste político de Yeda está na luta política da classe dominante que ainda não definiu o projeto que pretende colocar em prática. Acredito que esta elite não tenha projeto nenhum, no final das contas, a não ser o de explorar seres humanos e o ambiente existente para acumular mais riqueza.

Mas, para continuar este processo, precisa romper com a cultura formada num ambiente de pequenas propriedades sustentando a pirâmide social, dividida por divergências históricas mas que perdeu o sentido na historia recente. Os capitalistas locais brigavam entre si para ocupar o espaço do poder, mas o modelo de exploração era o mesmo, e eram hegemônicos. Mas o neoliberalismo triturou esta realidade. As empresas que sobrevieram foram as que conseguiram, por suas alianças com o governo central, há muitas gestões, recursos para se integrarem ao mercado internacional. O capital local é pequeno e dependente do sistema financeiro. A economia dominante não é local. E está integrada ao ascendente capitalismo neoliberal dos países emergentes.

Se o governo Yeda se atrapalhou na política, não prejudicou o capital privado, ao contrário, manteve os subsídios do governo a seus projetos empresariais.

A mídia apresentou o resultado como o “melhor” em 37 anos. O sacrifício a que submeteram o povo foi classificado pelo secretário da Fazenda como “indicador do imenso resultado fiscal que fizemos”. Quer dizer, custou em qualidade de vida da maioria dos gaúchos. Mas o centro dos comentários da mídia é de que tal resultado é muito bom, capaz de extasiar corações e mentes.
O governo Yeda fez economia para pagar dívidas, e o fez às custas de cortes de investimentos sociais e do não cumprimento de exigências constitucionais, como o repasse mínimo de 12% do orçamento para a saúde. O “ajuste fiscal” – é assim que classificam a política econômica realizada – vai continuar.

Inserido na pos modernidade política, os gaúchos que apresentavam se como sendo o povo mais politizado, mais éticos, estão mergulhados em CPIs, fraudes e tudo que ocorre em âmbito nacional, envolvendo os mesmos personagens partidários.

Sem comentários: