27 janeiro 2009

I Marcha contra a intolerância religiosa
Rio Grande do Sul, nós podemos!

Vamos supor que num cenário social como o do Rio Grande do Sul, já exista uma luz, não no fim do túnel, mas em seu início. Afinal, somos ainda todos muito novos.

Que ligue o povo excluído, trabalhador, masculino e feminino, das diversas sexualidades, que possibilite uma conexão que se transforme em movimento e liderança política? Mas que vá além, captando o ânimo de luta dos lutadores sociais.

Que, de fato, seja algo novo política e socialmente, pela forma e conteúdo, uma síntese que vem fermentando as comunidades excluídas, oprimidas, exploradas. Que amplie as soluções que precisam ser resolvidas e estão colocadas nas diversas comunidades, tribos, classe social. Seria uma mudança límpida como a luz do dia.

Não, não estou falando apenas do ato que foi a celebração dos 25º aniversário do MST, que ainda terá suas repercussões ao longo da história. Mas da 1ª Marcha das religiões de matriz africana, ocorrida em Porto Alegre, no dia 21 de janeiro passado.

Não estou falando das atuações do grupo Oi Nóiz Aqui Traveiz, com suas monumentais apresentações (não no sentido faraônico de gastos), e representações, idéias e arte, como o fez ao abordarem a vida de Carlos Marighela, na peça O Amargo Santo da Purificação.

Se observarmos as revelações das celebrações dos movimentos sociais no estado, ela se revelou como uma existência, uma vontade política e social sustentada pelo sincretismo religioso, liderada pela matriz africana.

Mais do que uma marcha, o que foi mostrado aos porto alegrenses na concentração, no Largo Gênio Perez e na Caminhada, que passou pelo Largo Zumbi e foi até as águas do Rio Guaíba, na Usina do Gasômetro, foi um ato religioso radiante.

Quase duas mil pessoas cantaram os cânticos dos orixás de luta. Orixás chamados pelos seus fiéis para estarem juntos a eles, protegendo-os, quando estão em movimento, no trabalho, nas ruas. Xangô, no sincretismo católico, São Miguel Arcanjo. Oxum, no sincretismo católico, Nossa Nenhora.

Quando a Marcha chegou à beira do Rio, no Gasômetro, o canto foi dedicado a Oxum, as mais novas e as mais velhas. Só depois de chamar Oxum o ritual da entrega foi completado. Era um ato religioso-político, seguindo os ritos, com os momentos de liturgia, em que uns cantavam, outros respondiam, muitos cantavam junto. Tinha, incrivelmente, quem apenas dançava. E os que faziam tudo isto e ainda aplaudiam entusiasmados, sem serem incitados para isto.
A marcha não tinha bandeiras.

Cada um com seu orixá, dentro de si, a orientar a sua cabeça.

Vamos supor que num cenário social como o do Rio Grande do Sul, já exista esse caminho, uma luz, não no fim do túnel, mas no inicio do caminho para o coração de todas as etnias, de todos o trabalhadores, masculinos e femininos, nas diversas sexualidades? Que consiga se conectar com a alma inovadora de uma nova liderança política, indo além, captando o ânimo de luta dos lutadores sociais. Ampliando as soluções que precisam ser resolvidas e estão colocadas.

Sabe como é! Eu tenho um sonho, e considero que nós podemos.

A marcha não tinha bandeiras.
Neste movimento existe uma cultura de que a bandeira é o Ori, ou o Orixá de cada um. Não sou conhecedor do assunto, na verdade um grande ignorante, mas vou tentar explicar: o Ori é você, é o que está em sua cabeça, mas, é você se você tiver consciência disto, de quem é você. Você é a sua bandeira. E, se tiver aqueles propósitos, de quase duas mil pessoas, cada um é o Ori que está junto com outros querendo, sonhando, lutando por este bem estar comum. Ali, o Ori de cada um é o que cada um quer para si e para todos, do melhor e do bom para a vida, no caso, coletiva.
Cada um com seu orixá, dentro de si, a orientar a sua cabeça.

A organização da Marcha também é especial. Os filhos de santo ficam perto de suas mães e pais de santo. Como tinha muitas linhas do candomblé e da umbanda, elas se visitam, se relacionam, mas, ali um babalorixá fazia o papel de anfitrião, o Pai de Santo. Era como se tivesse feito o convite. E ele coordenou a Marcha de forma luminosa. A sintonia do Baba Diba de Iyemonja, em cima do caminhão de som do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas, com seus filhos, simpatizantes, populares mostra que o povo quer mudar, e talvez isso ocorra.

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